No início do ano os principais jornais noticiaram na web a decisão da presidente Dilma Roussef de retirar da mesa de seu gabinete presidencial a Bíblia e o crucifixo. O argumento? O Brasil é um país constitucionalmente laico e, portanto, não se pode beneficiar uma religião em detrimento de outra. Tal reação causou estranheza em muitos (inclusive na imprensa) porque os últimos presidentes nunca ousaram retirar os dois símbolos religiosos do país mais romanista do mundo. Sem contar que a Bíblia (pelo menos em tese) é o principal livro da crescente população evangélica brasileira.
O argumento usado como justificativa pela presidente é pobre pela seguinte razão: a laicidade de um Estado democrático não significa necessariamente que ele ou os seus governantes devem ser irreligiosos, mas que todos os cidadãos comuns ou revestidos de autoridade têm o direito de professar livremente a sua religião. Em outras palavras, não haveria nenhum problema constitucional para a nossa presidente manter a Bíblia Sagrada e o crucifixo em sua mesa de trabalho, já que durante a campanha presidencial ela afirmou várias vezes ser católica romana não é mesmo?
Particularmente, para mim isso não faz nenhuma diferença. Sabe por quê? Qual o valor de uma Bíblia na mesa do principal governante da nossa nação se seus valores éticos e morais são totalmente desprezados? A triste realidade é que durante séculos a Palavra de Deus tem sido usada como um amuleto ou símbolo supersticioso por nossas autoridades. Se ao menos tivessem lido e crido em sua mensagem liberariam tamanho poder capaz de transformar gerações por meio do evangelho. Contudo, esse problema é tão milenar que as páginas da Bíblia mencionam em diversas passagens o desprezo dos líderes diante dos mandamentos divinos. O Salmo 2 é um bom exemplo disso. Nele, o rei Davi nos ensina algumas coisas:
(1) Governantes e nações sem temor sempre manifestarão o seu desejo de emancipação (1-3).
Davi descreve os povos enfurecidos com o Senhor de toda terra porque não suportam submeter-se a Lei de Deus. Os reis e príncipes do mundo se levantam e conspiram contra o Senhor e o seu escolhido dizendo: “Vamos romper seus laços e nos libertar de suas algemas. Temos as nossas próprias regras, valores e leis. Não precisamos de ninguém mandando em nós e nos dizendo o que fazer”. O reflexo de homens sem temor a Deus é o desejo de emancipação de todos os princípios norteadores de uma cosmovisão onde Deus é a referência máxima. É possível perceber isso nas diversas áreas da vida, inclusive na política. O desengavetamento, mais uma vez, da PL 122/2006 e a posição favorável da UNESCO ao Kit do MEC contra a homofobia demonstram que a grande maioria dos políticos do nosso país não diferem dos seus colegas espalhados pelo mundo. Eles trocam a verdade pela mentira, à justiça pela injustiça (Rm 1.18 ss). Quando os governantes vivem como se Deus não existisse, eles legislam e lideram segundo o seu coração e não segundo a Palavra de Deus.
(2) O Senhor vê tudo isso e zomba deles rindo (4-5).
Como Deus reage a isso tudo? Ele ri e zomba de todos eles. Ele continua soberano sobre os céus e a terra. O Rei já foi ungido e está entronizado sobre o santo monte de Deus. Toda a rebelião, todas as ameaças, todos os esforços da raça humana não podem desviar o supremo propósito de Deus. Deus é Deus, e nós não podemos destroná-lo. O questionamento do salmista não era simplesmente investigativo. Ele está horrorizado e chocado. Se Deus conhece o caminho dos ímpios e diz que este leva à destruição (Sl 1.6), por que as nações planejam revoltas? Por que os povos fazem planos tão tolos? A revolução não tem nenhuma chance de ser bem-sucedida.
Na realidade, a rebelião é uma loucura. O que os homens pensam que estão fazendo? Perguntou Davi. O pecado não é engraçado aos olhos de Deus, mas ele ri da tola rebelião dos políticos desse mundo. O pecado é triste, mas ao mesmo tempo ridículo. E importante destacar que o riso de Deus não anula a ira dele. Ele ri e ao mesmo tempo está determinado a pôr fim à rebeldia e punir os rebeldes. Na sua ira ele fala sobre a coroação do seu Filho – o Filho, o Ungido. Jesus Cristo vai reinar e acabar com toda a desobediência.
(3) A razão é simples: Ele já constitui o seu Rei (6-9).
Ouça o que diz o Filho de Deus: Ele proclama o decreto do SENHOR, Deus Pai. O Filho faz e fala tudo que o Pai dá para ele fazer e falar. A vontade do Deus Triúno é executada através da obediência do Rei Jesus. Cristo é o agente do Pai em todas as suas obras no mundo. Esta cena mostra uma visão gigantesca do poder de Jesus Cristo. Não existe no universo outro rei tão poderoso. Ele vai esmagar a rebelião com força infinita. Ele vai reinar sobre todas as nações, sobre todo mundo por todo o tempo.
Esta é realmente a definição do título “Cristo.” Não é o sobrenome de Jesus. É o título do seu ofício. De acordo com o Salmo 2, Cristo é o supremo rei que reinará sobre todas as nações por toda a eternidade. Ele vai julgar cada pessoa, grandes e pequenos, ricos e pobres, negros e brancos, políticos e cidadãos, de qualquer língua, nível de instrução e crença. Acho que agora você já sabe quem é o ser mais amedrontador do universo! O Salmo 2 diz que ele é “Jesus Cristo!”. Seria bom que todos os líderes políticos soubessem bem disso.
(4) Todos devem ouvir atentamente sua advertência (10-12).
Por fim, o rei Davi fala pessoalmente com os reis e juízes. O que ele fala? Ele diz: “parem com essa rebeldia!”. Sua admoestação é para que todas as nações abram os seus olhos, que os povos sejam sábios, parem com a rebelião e comecem a obedecer ao grande Rei Jesus.
O mandamento é “Beijai o Filho”. Um beijo nesse contexto significa um sinal de reconhecimento da autoridade, uma homenagem a um rei novamente reconhecido. O Salmo 2 nos adverte do grande perigo de continuarmos desobedientes. Se nós não beijarmos o Filho, pereceremos no caminho. Ninguém por mais autoridade que possua neste mundo está acima do Filho de Deus. A terra e tudo o que nela se contém pertence ao Senhor Jesus.
Conclusão
Nossos governantes precisam saber disso e é justamente aí que a Igreja de Cristo tem um importante papel kerigmático a cumprir. É preciso anunciar a todos, inclusive àqueles que nos governam que se persistirem pecando, morrerão em seus próprios pecados.
Entretanto, o papel profético da igreja também é o de avisar que todos aqueles que se refugiam em Cristo são bem-aventurados, porque nele há salvação, felicidade e segurança.
Felizes são todos os que em Jesus Cristo se refugiam!
Alan Kleber Alves Rocha (Pastor titular da Igreja Presbiteriana de Aracaju)
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