Os
Evangelhos apresentam Jesus como um homem de ação, de movimento, um andarilho –
alguém que andava quilômetros e quilômetros com os seus pés fincados no pó
dessa terra e com uma doce mensagem nos seus lábios. O que motivava o Senhor
Jesus, a sua energia e entusiasmo, era a consciência da sua missão. Ele sempre
fez questão de deixar de modo muito claro, e explícito, a natureza da sua
missão. Por exemplo: Em Jericó, na casa
de Zaqueu, após confirmar a salvação daquela alma, Ele disse: “O Filho do homem
veio salvar e buscar o perdido” (Lucas 19.10).
As ovelhas desgarradas estavam no centro da missão do Filho de
Deus. Entretanto, não haveria a
possibilidade de cumprir sua Missão sem entrar no mundo em trevas e podridão –
Ele se identificou com o ser humano dentro do seu próprio contexto de dor e
miséria. Convido você a refletir sobre um encontro de Jesus com dez leprosos,
registrado no Evangelho de Lucas no capítulo 17, versos 11 a 19.
Consideremos
algumas ênfases da passagem:
1.
DESTACO A
GEOGRAFIA, O TERRENO, PISADO POR JESUS
“De caminho para Jerusalém, passava Jesus
pelo meio de Samaria e da Galiléia.
Ao entrar numa aldeia...”
Jesus
entra em terrenos totalmente rejeitados pela sociedade da época. Primeiro, ele adentrar no meio de Samaria.
Essa região era desprezada pelos judeus. Havia uma profunda inimizade entre os
samaritanos e os judeus. O conflito
entre essas duas raças era histórico. Os judeus consideravam os samaritanos um
povo miscigenado, impuro, sem tradição, sem conhecimento de Deus, e ensinavam
que a porta do Céu estava trancada para tais. Aliás, somente eles – os judeus –
julgavam ser os únicos descendentes de Abraão, Isaque e Jacó. Jesus, portanto,
quebra o protocolo e entra no terreno dos samaritanos. Notem que os discípulos
estavam com Jesus – certamente isso foi embaraçoso para eles. Entretanto, Jesus
vai mais além!
Além
de entrar em Samaria, Jesus se dirige e finca seus pés em um terreno
cerimonialmente imundo – uma aldeia de leprosos. Aí, nesse caso, judeus e
samaritanos se uniam e condenavam os leprosos ao isolamento total,
declarando-lhes amaldiçoados por Deus. Ninguém entrava em contato com leprosos
– eles eram desprezados, esquecidos e a única alternativa era a morte certa e dolorosa.
Se alguém, na época, fosse vítima da lepra deveria deixar seus parentes, amigos
e afazeres e viver segregado numa aldeia afastada da cidade. Essa doença
causava uma deformidade terrível no corpo: as extremidades caiam de podre, o
cheiro era insuportável e a dor violenta. Além da dor física, o leproso sentia
a dor do preconceito, do isolamento e da condenação. Dor no corpo e na alma!
Apesar disso tudo, contrariando toda expectativa humana, Jesus entrou ali!!!
Imaginem o pânico dos discípulos?
Portanto,
o primeiro aspecto da missão de Jesus é entrar em terrenos esquecidos e
hostilizados, e encarnar nessa terra a profecia de Isaías: “O povo que andava
em trevas viu grande luz, e aos que viviam na região da sombra da morte,
resplandeceu-lhes a luz” (Isaías 9.2).
2.
JESUS NÃO
APENAS ENTROU EM TERRENOS DESPREZADOS, MAS ESTABELECEU CONTADO COM OS SEUS
MORADORES
“....saíram-lhe ao encontro dez leprosos e lhe gritaram, dizendo: Jesus,
Mestre, compadece-te de nós! Ao vê-los, disse-lhes Jesus: Ide e mostrai-vos aos
sacerdotes.
É
extraordinariamente admirável perceber Jesus em ação – Aquele que é
tremendamente santo, Criador do universo e digno de toda adoração ouve vozes
súplices de miseráveis leprosos. Jesus entrou, ouvi e viu dez leprosos que
gritavam em tom de desespero e, paradoxalmente, de esperança: “Mestre,
compadece-te de nós!”. Certamente vozes fracas, roucas, desgastadas pelo cruel
doença. Jesus se aproximou deles, uma vez que o narrador não afirma que Jesus
devolveu a resposta no mesmo tom – provavelmente Jesus se dirigiu a eles face a
face. Assim, o Mestre quebra uma lei
cerimonial se envolvendo com o drama desses homens aflitos, conhecendo-os de
perto.
Isso é maravilhoso: o nosso Deus veio ao nosso
encontro. Ele se esvaziou de sua glória, e pisou na lama produzida pelo pecado.
O olhar gracioso de Jesus nos encontrou, seus pés foram ao nosso encontro e a
sua doce voz despertou em nós uma nova vida.
3. A bênção de Deus nessa terra está
condicionada à obediência à Sua Palavra.
“Aconteceu que, indo eles, foram purificados”
(14b)
Deus não
criou o homem para a felicidade, Ele o criou para a obediência. A felicidade é
conseqüência disso. Não existe relacionamento com Deus se não for pautado na
obediência, caso contrário Deus não seria Deus!
Os leprosos
obedeceram à voz de Jesus. O fato de Cristo entrar na aldeia - esquecida e
rejeitada- o credenciou a ser obedecido. É interessante destacar que os
leprosos foram se apresentar aos sacerdotes quando ainda estavam doentes. Aqui
nós temos um belo exemplo de fé, pois conforme o autor as Hebreus a “fé é a
certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem.” (Heb. 11.1). A fé os levou à obediência e, conseqüentemente,
a bênção – a restauração do corpo. Eu fico imaginando a concretização do
milagre na caminhada: um olhava para o outro e, espantado, dizia: “Você está
limpo!!!”. O mesmo redargüia: “Você também!” Eles na peregrinação, obedecendo à
voz de Jesus, notaram que a cura fora estabelecida entre todos.
Uma lição reveladora
podemos extrair desse fato: Não haverá bênção da parte de Deus, enquanto o
nosso coração não for fielmente obediente a Ele. O mundo se tornou um caos pela
desobediência, mas o paraíso é retomado pela submissão à vontade do Criador.
4. Todos são chamados à obediência a Deus, mas
somente os eleitos respondem em arrependimento e fé.
“Um dos dez, vendo que fora curado, voltou,
dando glória a Deus em alta voz, e prostrou-se com rosto em terra aos pés de
Jesus, agradecendo-lhe; e este era
samaritano” (15 e 16).
Há
uma verdade desconcertante que a Bíblia faz questão de enfatizar: a expressiva
maioria dos homens despreza e rejeita a Verdade. Esse fato é confirmado desde
os tempos de Noé, passando pelos profetas do Antigo Testamento e,
invariavelmente, no ministério terreno de Jesus e dos seus apóstolos – notavelmente,
nos nossos dias isso não é diferente! Porém, uma minoria recebe e acolhe o
chamado do Mestre. Esses são os eleitos do Pai. Quais são as características do
eleito de Deus? Na passagem
elencamos algumas atitudes dos que respondem positivamente ao Evangelho, tendo
como exemplo claro um único leproso regresso:
I. Jesus passa a ser a prioridade da vida –
v. 15, “voltou”.
No verso 5 há uma indicação que
manifesta a nova vida no ex-leproso: Ele
voltou. Os demais, depois que se
viram curados, voltaram para suas casas, famílias e afazeres; porém, um voltou
para os braços de Jesus. É bem verdade que esse possuía, da mesma forma,
família e afazeres; mas Cristo passou a ser central na sua vida – Ele
redirecionou a sua história priorizando o Mestre.
II. Promoção da glória de Deus, adoração
(final do v. 15)
É
interessante ressaltar que os leprosos deveriam gritar ao entrar na cidade:
“Sou leproso, sou leproso, sou leproso...”. Ao ouvir essa mensagem dramática as
pessoas se afastavam do doente, e nem mesmo olhavam para ele. Notem que o texto
revela algo maravilhoso: O ex leproso voltou para Jesus dando glória a Deus em
alta voz. Essa é uma segunda marca dos eleitos de Deus: adoração. Na realidade
é uma conseqüência natural da primeira: aqueles que buscam Jesus em primeiro
lugar percebem que suas vidas só têm sentido quando usadas para a glória de
Deus. Ele glorificou Jesus. A adoração traz finalidade à existência humana.
Promove sentido para viver. Preenche o vazio existencial e gera um novo fôlego
de vida. Refaz a vida!
Deus tirou aquele homem da aldeia da miséria e
do pranto, e o colocou no altar do louvor e da adoração Àquele que é
transformador de vidas. Lembro-me das palavras de Davi: “Esperei confiantemente pelo Senhor; ele se inclinou para mim e me ouviu
quando clamei por socorro. Tirou-me de um poço de perdição, de um tremedal de
lama; colocou-me os pés sobre uma rocha e me firmou os passos. E me pôs nos
lábios um novo cântico, um hino de louvor ao nosso Deus...” (Salmo 40. 1-3).
III. Humildade
Diz o verso
16 que ele “prostrou-se com o rosto em
terra aos pés de Jesus”. A palavra humildade provém do latim húmus que significa barro, pó, areia.
Traz a idéia de reconhecimento da verdadeira natureza. A humildade do ex-leproso
levou-o à prostração, ao arrependimento, ao quebrantamento aos pés de Jesus.
Essa marca é mais que essencial é a comprovação, de fato, que carimba sela e
atesta uma nova vida. O arrependimento genuíno e sincero qualifica o homem para
tomar atitudes radicais aos pés de Jesus – resoluções de um novo coração -, e a
fé levanta o prostrado para seguir um novo e vivo caminho.
Tudo começa
com uma postura de humildade diante de Deus. Por isso Jesus inicia sua carreira
terrena proferindo suas primeiras palavras: “Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos
céus” (Mt. 5. 3).
IV. Coração grato pela tão grande salvação.
A
gratidão é a moldura que envolve o belo quadro da salvação. O regresso foi aos
pés de Cristo com a alma salva e agradecida pela Sua bondade a favor da sua
triste vida. Um coração agradecido promove sorriso nos lábios de Deus! Não há
dúvida que a gratidão é uma preciosa marca nos eleitos de Deus.
4. MUITO EMBORA SOMENTE OS ELEITOS RESPONDAM À CHAMADA DA SALVAÇÃO, DEUS
ESPERA ADORAÇÃO E GRATIDÃO DE TODOS OS HOMENS INDISTINTAMENTE.
“Então, Jesus lhe perguntou: Não eram dez os
que foram curados? Onde estão os nove? Não houve, porventura, quem voltasse
para dar glória a Deus, senão este estrangeiro?” (Versos 17 e 18)
O ser
humano foi criado para a promoção da glória de Deus. Adoração ao Criador não é
algo optativo, mas dever absoluto dos seres criados. A adoração começa na
obediência com gratidão e louvor. Não existe relacionamento com Deus se não for
pautado na obediência. Deus criou Adão, e imediatamente apresentou-lhe uma
ordem (Gênesis 2. 16,17) – não poderia ser diferente, caso contrário o homem
seria semelhante a Deus. O relacionamento posto no Éden era de Criador e
criatura, Senhor e servo, Pai e filho, Deus e adorador.
É
bem verdade que todos os leprosos obedeceram à voz de Jesus indo na direção dos
sacerdotes, mas o que impressionou o Mestre foi, na realidade, a ingratidão. A
grande maioria expressou o seu próprio egoísmo e mesquinhez do coração. Não
houve reconhecimento, nem gratidão e nem louvor; apenas rebeldia e alienação.
Isso nos leva para o penúltimo destaque:
5. Jesus promove uma nova vida na terra não de alienação, mas de profundo
engajamento com o Reino de Deus.
“Levanta-te e
vai a tua fé te salvou.” (Versículo 19)
As palavras
ditas por Jesus para aquele homem foram desafiadoras. Depois de ser agraciado
com a cura do corpo, ele recebe a cura da sua alma. A ordem “Levanta-te e vai” o coloca dentro da
grande comissão (Mateus 28. 19-20): ser uma testemunha e, essencialmente, o
próprio testemunho da operação interna do Espírito Santo em sua vida.
É notável a prática evangelística dos
crentes na Igreja Antiga. Primeiro, eles apresentavam o testemunho verbal
evidenciando Jesus como Senhor e Salvador (Kerigma);
depois, eles se apresentavam como sendo o testemunho vivo da mensagem
apresentada (Martíria). Em outras
palavras: Após pregar Cristo, enfatizavam: “Olhem
para nós. Perceberam a mudança? Viram o que o Evangelho fez na minha Vida?
Notaram a mudança radical e profunda?”, depois eles diziam: “Da mesma forma que
Jesus fez em mim, Ele pode fazer em você”. Esse era o verdadeiro poder da
Igreja!!! Será que hoje temos a ousadia de proclama o Evangelho nesses termos?
Certamente o homem curado voltou para sua
cidade, família e afazeres testificando o que Jesus Cristo fez por ele,
apresentando-se como o testemunho vivo! – um novo homem, uma nova vida, uma
nova história!!!
ÚLTIMO
DESTAQUE, AQUELE MESMO QUE DISSE: “A TUA FÉ TE SALVOU” foi o mesmo impressionante
descrito 800 anos atrás pelo profeta Isaías. Leia o que ele disse em relação a
Cristo:
Raiz de uma
terra seca; Não tinha aparência nem formosura; olhamo-lo, mas nenhuma beleza
havia que nos agradasse; era desprezado e o mais rejeitado entre os homens;
homem de dores e que sabe o que é padecer; e, como um de quem os homens
escondem o rosto, era desprezado, e dele não fizemos caso; aflito, ferido por
Deus e oprimido.
Essa descrição soa familiar? A
descrição de Isaías 53 é de um leproso! Chocante?
Essa profecia se cumpriu literalmente
em Jesus Cristo. A lepra no Antigo
testamento tipificava o pecado. Ele tomou a nossa lepra, os nossos pecados,
sobre Sí. Ele se fez maldição em nosso lugar. Na cruz do Calvário Ele foi desprezado
pelo Pai que escondendo o Seu rosto, deixo-O completamente abandonando e
sofrendo toda ira divina – Deus é puro de olhos e não pode ver o mal (Habacuque
1.13).
CONCLUSÃO
Enfatizamos nesse estudo bíblico a história de um
leproso. Esse leproso sou eu! É você! Jesus nos visitou na nossa própria
miséria e pecado. Nós não o procurávamos, mas Ele graciosamente foi ao nosso
encontro e nos achou. Cristo nos purificou, mas tomou sobre Si as nossas
próprias enfermidades e nos concedeu paz e cura. Como podemos responder a esse
gesto de graça, misericórdia e amor?
Analise a sua vida diante das posturas apresentadas no
texto: Você está entre a maioria que rejeitou Jesus ou se alinha à ação daquele
que voltou em atitude de sujeição total, adoração, humildade e gratidão?
A minha sincera oração é que o Eterno Deus veja em
você o fruto do penoso trabalho da alma do Seu Filho, e se dê por satisfeito.
Amém.
Rev. Naziaseno Cordeiro
Torres, VDM