Não era para
ser assim! A morte não estava nos planos de Deus. A Bíblia enfatiza que ela é o
fruto amargo do pecado (Romanos 6. 23). Os Evangelhos relatam que o Senhor
Jesus verteu lágrimas diante da sua assustadora realidade (João 11.35) - é
evidente que o choro do nosso Mestre não foi de impotência, mas de tristeza
diante da realidade trágica que o pecado proporcionou à obra prima da criação
de Deus. A morte mostra sua face mais
cruel ao ceifar vidas ainda jovens, tirando-os da convivência dos pais. É
sempre embaraçoso e desafiador consolar corações cujos filhos morreram no
desabrochar da vida. Evidentemente não é fácil enterrar os pais, mas o
contrário é infinitamente mais doloroso, frustrante e inquietante. Como trazer consolação para uma mãe – ou pai
– diante da duríssima realidade da morte de um filho? Em muitas ocasiões, exercendo o meu ofício,
me encontro sem palavras diante desse tipo de dor. Contudo, há consolação na
Palavra de Deus para esse tipo de experiência. Nesse artigo apresento a
experiência de dois homens de Deus diante da morte de seus filhos: Ló e Davi.
JÓ, QUASE TUDO
PERDIDO
A história de
Jó é bastante conhecida. Esse homem perdeu quase tudo: filhos, bens materiais,
saúde e honra. Porém, no último capitulo do Livro da sua vida, 42, tudo lhe é
restituído. Eu chamo sua atenção para um detalhe que às vezes passa
despercebido. Antes da sua terrível provação, o capítulo primeiro narra as
virtudes e as riquezas de Jó: possuía sete mil ovelhas, três mil camelos,
quinhentas juntas de bois e quinhentas jumentas. Além dos bens materiais,
possuía uma bela família constituída de dez filhos – três moças e sete rapazes.
Certamente você sabe o que vem depois... perdeu quase tudo. Agora, o último
capítulo do Livro de Jó é revelador. Depois do temporal, Deus lhe restituiu em
dobro (Jó 42.10): “Assim, abençoou o Senhor o último
estado de Jó mais do que o primeiro; porque veio a ter catorze mil ovelhas,
seis mil camelos, mil juntas de bois e mil jumentas”. E em relação aos filhos que foram mortos? Diz
o verso 13: “Também teve outros sete filhos e três
filhas”. Ora, pela lógica graciosa de Deus, Jó deveria ter o dobro de
filhos, ou seja vintes filhos; mas Deus manteve a mesma quantidade
anteriormente. Mas eu garanto pra você que Deus restituiu seus filhos em dobro.
Sabe o porquê? Por que filhos não se perdem dos pais mesmo diante da realidade
da morte. Jó não os perdeu, ele continuou com os dez, e Deus concedeu mais
outros dez. É bem verdade que Jó
temporariamente viveu sem o convívio integral com todos, mas certamente
respirando a certeza que a esperança proporciona de um reencontro com todos
eles em um banquete no qual Jesus será o anfitrião. Isso nos leva a outro
personagem do Velho Testamento que viveu a mesma experiência, o rei Davi.
DAVI,
ESPERANDO A RESSURREIÇÃO
No segundo
Livro de Samuel, capítulo 12, há o relato da comovente experiência de Davi,
diante do poder destrutivo da morte (Aliás, por causa do seu pecado de
adultério e assassinado, sua vida foi marcada por histórias trágicas). O
relacionamento pecaminoso entre Davi e Bate-Seba (mulher de Urias) gerou uma
criança. Mas, o rei de Israel deu motivo para que os inimigos do Senhor
blasfemassem, por isso Deus feriu a criança, e essa adoeceu gravemente. Davi
buscou Deus incessantemente por meio de orações e jejum - prostrando-se em
terra durante uma noite. Depois de sete dias de intensa agonia morreu a
criança. Os servos de Davi temia em dar-lhe a notícia porque diziam: “Eis que, estando a criança ainda viva, lhe falávamos, porém
não dava ouvidos à nossa voz; como, pois, lhe diremos que a criança é morta?
Porque mais se afligirá”. Porém, Davi surpreende seus servos: ele se
levantou da terra, lavou-se, ungiu-se, mudou de vestes, entrou na casa do
SENHOR e adorou; depois, veio para a sua casa e
pediu pão; puseram-no diante dele, e ele comeu (2 Samuel 12.20). Seus
criados não entenderam as atitudes do rei, e indagaram-no: “Que é isto que fizeste? Pela criança viva jejuaste e
choraste; porém, depois que ela morreu, te levantaste e comeste pão”. A
resposta de Davi foi reveladora: “Vivendo ainda a
criança, jejuei e chorei, porque dizia: Quem sabe se o SENHOR se compadecerá de
mim, e continuará viva a criança? Porém, agora que é morta, porque jejuaria eu?
Poderei eu fazê-la voltar?” – veja o finalzinho da resposta de Davi – “Eu irei a ela, porém
ela não voltará para mim”. Notem: “Eu irei a ela...”. O rei não perdeu
essa criança, apenas temporariamente foi ela tirada dos seus braços! A certeza do reencontro mitigou o luto do
coração!
Diante dessas
experiências recebemos conforto quando confrontados com o poder da morte. Há
esperança! Talvez você – ou alguém conhecido seu – perdeu um filho, e vive com
o coração pesado pela dor do luto. Saiba: Você não o perdeu, ele continua vivo
aguardando o feliz reencontro com os seus braços. Creio que até os filhos
abortados ainda no útero, ressuscitarão. Um dia você receberá um tapinha nas
costas, e ouvirá: “Oi pai, oi mãe, sou eu -seu filho”! “E Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima.” Amém!!!
Rev. Naziaseno Cordeiro Torres