Puritanos, Assembléia de Wstminster, Confessionalidade |
Na hora do almoço, em conversa com um
amigo presbítero, receoso ele me questionou: “Você é puritano? ” Essa pergunta,
inesperada, me fez mastigar um pouquinho mais, enquanto matutava uma rápida
resposta. Uma sinalização afirmativa me colocaria numa situação embaraçosa
diante do meu interlocutor; porém, uma resposta negativa me colocaria em falta
com a minha própria consciência diante de compromissos firmados em dado momento
histórico da minha vida ministerial. Bom, vamos lá!
Tecnicamente, não sou puritano. Por
quê? Vejamos. Primeiro, porque nasci em 1973 na cidade de Garanhuns,
Pernambuco. Em contrapartida, o movimento puritano situa-se no tempo e no
espaço próprios.
No tempo! O puritanismo durou de 1560
até o início dos anos 1700. Portanto, um espaço temporal de cento e quarenta
anos. Iniciada por João Calvino a
reflexão teológica reformada alcança seu ápice e maturidade nesse período de
tempo.
No espaço! O movimento puritano se
formou na Inglaterra. Suas raízes foram fomentadas pelas aventuras amorosas do
Rei Henrique VIII (1491-1547). Esse desejava se divorciar de sua esposa, mas
temia ser excomungado, então, ele mesmo, se declarou e se estabeleceu a si
mesmo como o cabeça supremo da Igreja da Inglaterra. Esse monarca não desafiou
Roma movido por paixão por uma outra mulher, mas porque queria um herdeiro
masculino para o seu trono. Entretanto, teologicamente poucas coisas mudaram,
promoveu uma reforma branda enquanto a sua alma continuava essencialmente
católica. Com o nascimento do seu filho, Edward VI (1547-1553) a Fé Protestante
teve um forte impulso na Inglaterra. O arcebisbo Thomas Cranmer foi uma figura
central durante o seu reinado por meio de suas Homilias, do Livro Comum de
Oração e dos Quarenta e Dois Artigos
da Religião. Mas, na sucessão do trono, tudo mudou de forma radical. Assume
Maria(Mary) Tudor (1553-1558). Seus
atos: restabeleceu a missa em latim na Inglaterra; reforçou a aliança com Roma;
e perseguiu de forma cruel os protestantes matando quase trezentos
protestantes, incluindo o Arcebisno Cranmer. Segue a linha sucessória, e
ascende ao trono Elizabeth (1533-1603). Os protestantes nutriam esperança do
restabelecimento das ações engendradas por Edward VI, porém as expectativas
foram frustradas. A perseguição continuava e as vozes dissidentes eram
silenciadas sob o reflexo ameaçador da espada. Nesse contexto os brios
reformados se inflamaram, e os protestantes começaram a exigir uma reforma mais
robusta no Culto, na piedade (vida), na política e na cultura. A partir daí, os
algozes da fé protestante começaram a chamar injuriosamente os dissidentes de Puritanos!
ASSIM SENDO, TECNICAMENTE FALANDO,
NÃO SOU PURITANOS, POIS O TEMPO E O ESPAÇO ME DISTANCIAM DESSE MOVIMENTO
RELIGIOSO.
Porém, sou puritano no sentido de
partilhar e subscrever suas crenças e compromissos com a Palavra de Deus.
Aliás, sendo ministro presbiteriano, não tenho como não me identificar com os
puritanos em atos e fé! Seria um impostor, falso, hipócrita, rebelde e
mentiroso se em resposta à pergunta “Você é puritano? ”; respondesse, “Não”. Tal postura me nivelaria a Judas ao trair o
Filho de Deus pelos louros desse mundo; ou, ainda, a Pedro ao negar Jesus por
covardia e medo. Veja...
Em 20 de dezembro de 2001, no Templo da
Igreja Presbiteriana de Aracaju, fiz o seguinte voto: “Recebo e adoto sinceramente a Confissão de Fé e os Catecismos desta
Igreja, como fiel exposição do sistema de doutrina, ensinado nas Santas
Escrituras”. Esse juramento me liga
irremediavelmente aos pais puritanos. Nesse sentido, sou puritano! Aliás, pergunto,
teria como não o ser? Explico melhor...
A Confissão de Fé e os Catecismos acima
descritos, trata-se dos documentos confessionais de Westminster. No século 17
nossa forma teológica de pensar foi solenemente exposta e escrita em uma
Confissão de Fé e dois Catecismos: um maior e outro menor. Isso se deu na
Assembleia de Westminster, composta de 121 dos mais
capazes pastores da Inglaterra. Longos e
acalorados debates que se realizaram na Abadia de Westminster, em Londres, a
partir de 1º de julho de 1643. Os trabalhos se estenderam por cinco anos e
meio, durante os quais houve mais de mil reuniões do plenário e centenas de
reuniões de comissões e subcomissões.
Até hoje os documentos extraídos dessa Assembleia constituem os nossos
símbolos de fé! Por isso, somos uma Igreja Confessional – os presbiterianos
espalhados em todo o mundo têm uma doutrina comum, na qual juram lealdade e
subscrevem-nas!
Então, concluindo, SOMOS TODOS PURITANOS! É exatamente isso que a nossa
própria história requer de nós. Quando alguém maldosamente, movida pelos seus
preconceitos, nos chama de puritano
devemos nos conscientizar de duas cousas: A total ignorância histórica do nosso
interlocutor e, também, devemos nos alegrar pois inconscientemente nossos
acusadores nos colocam em harmonia com o pensamento histórico dos nossos pais do passado, e, ambos de joelhos, em
submissão às Escrituras Sagradas.
SIM SOU PURITANO! SOMOS TODOS PURITANOS!