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terça-feira, 18 de outubro de 2016

SOMOS TODOS PURITANOS!

Puritanos, Assembléia de Wstminster, Confessionalidade
Na hora do almoço, em conversa com um amigo presbítero, receoso ele me questionou: “Você é puritano? ” Essa pergunta, inesperada, me fez mastigar um pouquinho mais, enquanto matutava uma rápida resposta. Uma sinalização afirmativa me colocaria numa situação embaraçosa diante do meu interlocutor; porém, uma resposta negativa me colocaria em falta com a minha própria consciência diante de compromissos firmados em dado momento histórico da minha vida ministerial. Bom, vamos lá!

Tecnicamente, não sou puritano. Por quê? Vejamos. Primeiro, porque nasci em 1973 na cidade de Garanhuns, Pernambuco. Em contrapartida, o movimento puritano situa-se no tempo e no espaço próprios.  

No tempo! O puritanismo durou de 1560 até o início dos anos 1700. Portanto, um espaço temporal de cento e quarenta anos.  Iniciada por João Calvino a reflexão teológica reformada alcança seu ápice e maturidade nesse período de tempo.

No espaço! O movimento puritano se formou na Inglaterra. Suas raízes foram fomentadas pelas aventuras amorosas do Rei Henrique VIII (1491-1547). Esse desejava se divorciar de sua esposa, mas temia ser excomungado, então, ele mesmo, se declarou e se estabeleceu a si mesmo como o cabeça supremo da Igreja da Inglaterra. Esse monarca não desafiou Roma movido por paixão por uma outra mulher, mas porque queria um herdeiro masculino para o seu trono. Entretanto, teologicamente poucas coisas mudaram, promoveu uma reforma branda enquanto a sua alma continuava essencialmente católica. Com o nascimento do seu filho, Edward VI (1547-1553) a Fé Protestante teve um forte impulso na Inglaterra. O arcebisbo Thomas Cranmer foi uma figura central durante o seu reinado por meio de suas Homilias, do Livro Comum de Oração e dos Quarenta e Dois Artigos da Religião. Mas, na sucessão do trono, tudo mudou de forma radical. Assume Maria(Mary) Tudor (1553-1558).  Seus atos: restabeleceu a missa em latim na Inglaterra; reforçou a aliança com Roma; e perseguiu de forma cruel os protestantes matando quase trezentos protestantes, incluindo o Arcebisno Cranmer. Segue a linha sucessória, e ascende ao trono Elizabeth (1533-1603). Os protestantes nutriam esperança do restabelecimento das ações engendradas por Edward VI, porém as expectativas foram frustradas. A perseguição continuava e as vozes dissidentes eram silenciadas sob o reflexo ameaçador da espada. Nesse contexto os brios reformados se inflamaram, e os protestantes começaram a exigir uma reforma mais robusta no Culto, na piedade (vida), na política e na cultura. A partir daí, os algozes da fé protestante começaram a chamar injuriosamente os dissidentes de Puritanos!
ASSIM SENDO, TECNICAMENTE FALANDO, NÃO SOU PURITANOS, POIS O TEMPO E O ESPAÇO ME DISTANCIAM DESSE MOVIMENTO RELIGIOSO.

Porém, sou puritano no sentido de partilhar e subscrever suas crenças e compromissos com a Palavra de Deus. Aliás, sendo ministro presbiteriano, não tenho como não me identificar com os puritanos em atos e fé! Seria um impostor, falso, hipócrita, rebelde e mentiroso se em resposta à pergunta “Você é puritano? ”; respondesse, “Não”.   Tal postura me nivelaria a Judas ao trair o Filho de Deus pelos louros desse mundo; ou, ainda, a Pedro ao negar Jesus por covardia e medo. Veja...

Em 20 de dezembro de 2001, no Templo da Igreja Presbiteriana de Aracaju, fiz o seguinte voto: “Recebo e adoto sinceramente a Confissão de Fé e os Catecismos desta Igreja, como fiel exposição do sistema de doutrina, ensinado nas Santas Escrituras”.  Esse juramento me liga irremediavelmente aos pais puritanos.  Nesse sentido, sou puritano! Aliás, pergunto, teria como não o ser? Explico melhor...

A Confissão de Fé e os Catecismos acima descritos, trata-se dos documentos confessionais de Westminster. No século 17 nossa forma teológica de pensar foi solenemente exposta e escrita em uma Confissão de Fé e dois Catecismos: um maior e outro menor. Isso se deu na Assembleia de Westminster, composta de 121 dos mais capazes pastores da Inglaterra.  Longos e acalorados debates que se realizaram na Abadia de Westminster, em Londres, a partir de 1º de julho de 1643. Os trabalhos se estenderam por cinco anos e meio, durante os quais houve mais de mil reuniões do plenário e centenas de reuniões de comissões e subcomissões.  Até hoje os documentos extraídos dessa Assembleia constituem os nossos símbolos de fé! Por isso, somos uma Igreja Confessional – os presbiterianos espalhados em todo o mundo têm uma doutrina comum, na qual juram lealdade e subscrevem-nas!

Então, concluindo, SOMOS TODOS PURITANOS! É exatamente isso que a nossa própria história requer de nós. Quando alguém maldosamente, movida pelos seus preconceitos, nos chama de puritano devemos nos conscientizar de duas cousas: A total ignorância histórica do nosso interlocutor e, também, devemos nos alegrar pois inconscientemente nossos acusadores nos colocam em harmonia com o pensamento histórico dos nossos pais do passado, e, ambos de joelhos, em submissão às Escrituras Sagradas.


SIM SOU PURITANO! SOMOS TODOS PURITANOS!