Bem-Vindos

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

NIILISMO - O ENCONTRO DO VAZIO COM O NADA


É angustiante a situação do homem pós-moderno. Fatos e fotos ilustram um cenário obscuro e desalentador – fotografias de um álbum sem cor , sem imagem e brilho. Falo sobre o sentimento niilista que solapa a humanidade, sobretudo nos mais jovens. Niilismo! Já ouviu disso falar? Filosoficamente falando o Niilismo é... Aliás, vamos esquecer a base filosófica conceitual, e definir da forma mais simples possível: Niilismo é o encontro do vazio com o nada. Calma eu explico! Vamos trazer uma representação visual desse significante? Para tal, eu recorro a Bíblia. Imaginem alguém correndo atrás do vento. Estranho, né? Pois é, isso é niilismo - é absoluta falta de propósito e finalidade, ou seja é decretar a morte de qualquer significado nessa existência. É viver sem saber a resposta aos por quês da vida. É o drama de viver sem propósito para respirar. O niilismo não é uma corrente filosófica, antes é um estado de espírito decorrente de uma tremenda frustração idealista. Explico.

O Iluminismo promoveu uma mudança completa na maneira de encarar os fatos concernentes a Deus e ao homem. Até então, com apogeu na Idade média, Deus era o fim único e o centro de todas as cousas; o homem possuía o papel contemplativo em relação ao sagrado. Com o advento do Iluminismo a mente humana começou a despertar para a possibilidade de se desvencilhar das amarras da religião e da fé. As ferramentas adotadas pelo iluminismo para assentar e edificar uma nova era filosófica foram a dúvida e o ceticismo. No lugar da fé a razão foi entronizada, e a ciência foi venerada. Um século depois, XVIII, o Movimento Positivista , inspirado no iluminismo, formulou suas teses otimistas. Augusto Comte (1798-1857) dizia “que o homem havia chegado à sua maturidade; depois de passar pela idade religiosa” . A idéia do progresso pelo esforço do homem, via ciência, empolgou a humanidade que vislumbrava um futuro brilhante ( inclusive o dístico da nossa Bandeira – “Ordem e Progresso” – é reflexo desse otimismo). Mas algo mudou totalmente essa onda de confiança e esperança no próprio homem.

Alguns sérios episódios desacreditaram a credibilidade irrestrita na ciência e no homem como centro de todas as cousas, a saber:

• 1ª Guerra Mundial (1914-1918)

• 2 Guerra Mundial (1939-1945)

• As barbáries do Nazismo sob a tirania de Adolf Hitler (1933-1945)

• A Grande Depressão Americana ( Colapso da Bolsa de Valores, 1929)

Esses episódios mergulharam a humanidade em uma nova onda: o pessimismo, pois o “homem tornou-se o lobo do próprio homem”. O Positivismo, com o lema ordem e progresso, deu lugar a desesperança e a frustração. Surge, então, no século XX uma nova escola filosófica: o existencialismo. Vejamos alguns pontos salientes sobre ele.

Martin Heidegge r(1889-1976) foi o maior expoente desse novo movimento, que se caracterizou em torno de uma palavra: angústia. Depois Surge no cenário francês Jean Paul Sartre levando o Existencialismo até as mais extremas conseqüências. Analisando o mundo humano, que é o nosso habit, a náusea toma o lugar da angústia de Heidegger – náusea da sociedade humana; náusea da natureza cuja beleza é ilusória; náusea de nós mesmos - ou seja, gritando no megafone da desesperança ele bradou: “Viver é uma náusea!”.

É justamente nesse período que o Niilismo encontra as suas raízes. Asssim sendo, para ele “a grande vitória do indivíduo é perceber o absurdo da vida e aceitá-la. Resumindo, você vive uma vida miserável, pela qual você pode ou não ser recompensado por uma força maior. Se essa força existe, por que os homens sofrem? Se não existe, por que não cometer suicídio e encurtar seu sofrimento?” A resposta a essa indagação de Sartre deu luz ao Niilismo – para ele Deus não existe e a vida é só sofrimento e dor ( a lógica é não existe finalidade nenhuma na existência humana). Diz Sartre: “O mundo é absurdo e unicamente Deus poderia dar-lhe um sentido; mas Deus não existe, e, portanto, é preciso aceitar a vida como um absurdo”. Assim, para ele, a vida se desenrola no cenário sombrio, sem horizonte, sem história, sem motivação e sem sentido.

Mas, qual o objetivo desse post? Bom, Sartre morreu há mais de 100 anos, porém a onda niilista está mais viva do que nunca nos nossos dias. No final da minha adolescência eu li um livro de Francis Shaeffer intitulado A Morte da Razão. Na época ele não fez nenhuma diferença para mim, apenas serviu para cumprir às exigências de uma cadeira do Instituto Bíblico do Norte, em Garanhuns-PE. Após alguns anos, já no Seminário, reli e fiquei estupefato pela atualidade do seu conteúdo. Muito embora Schaffer escreveu em 1968, a mensagem é atualíssima. Diz ele no prefécio: “O homem já morreu. Deus já morreu. A vida se tornou uma existência sem significado, e o homem não passa de uma roda na engrenagem. A única via de escape passa por um mundo fantástico de experiências: drogas, absurdos, pronografia... loucura”. Isso é Niilismo!!!

O filósofo contemporâneo Franco Volpi pinta o atual quadro humano com cores sombrias quando diz que

"é de incerteza e precariedade a situação do homem atual. Lembra a de um andarilho que há muito caminha numa área congelada e, de repente, com o degelo, se vê surpreendido pelo chão que começa a se partir em mil pedaços. Rompidos a estabilidade dos valores e os conceitos tradicionais, torna-se difícil prosseguir o caminho."

Não é exatamente assim que muitos e muitos vivem nessa terra? Descarta-se Deus! então , o que sobra? Nada, absolutamente nada. Trabalha-se, mas Deus não é honrado; então o que sobra? Nada. Casa-se , mas Deus não é a base; então, o que sobra? Nada! Nascem os filhos, mas Deus não é divulgado; então, o que sobra? Nada. Sonhos e metas são planejados, mas Deus não é consultado; então o que sobra? Nada. Vive-se sem Deus; então, o que sobra?

Essa é a nossa geração! A geração do vazio, da falta de propósito, de significado, de valor, de Deus.

E nós, filhos de Deus, entramos na onda Niilista? No próximo post abordaremos a questão no ãmbito teológico.

Pr. Naziaseno Cordeiro Torres

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

A HISTÓRIA DO REI SALOMÃO - ELEVAÇÃO E DECADÊNCIA

Texto: 2 Crônicas 1. 7-13

- O texto é bastante conhecido. É clássico. Aqui Salomão, o rei de Israel, pede a Deus sabedoria para viver, sabedoria para reinar.

- A sabedoria proposta pelo texto engloba:
• Conhecimento, discernimento;
• Diz respeito a uma capacidade sobrenatural para fazer o certo;
• Optar sempre pelo caminho do bem;
• Fazer escolhas certas
• Andar sempre na vereda da justiça;

- Foi esse tipo de sabedoria que Salomão pediu a Deus.

- Deus apareceu a Salomão e disse: “Pede-me o que queres que eu te dê”. Era uma excelente oportunidade para Salomão pedir:
• Riqueza
• Fama
• Poder
• Prestígio
• Longevidade
• A morte de seus inimigos
• Dias felizes

- Mas, ele não pediu nada disso, ele clamou por sabedoria.

- Algo muito diferente acontece nos nossos dias.
• Muitos procuram as Igrejas não para buscar uma benção espiritual, mas material.
• Vivemos numa sociedade materialista e consumista, e muitos que buscam as Igrejas são também materialistas e consumistas.
• E o materialismo é fomentado, estimulado, pela pregação popular: “Aceite Jesus que a sua vida vai mudar. Você terá prosperidade, saúde e um bom emprego”.
• As igrejas estão lotadas de consumidores e exploradores, mas poucos adoradores.
• Salomão escolheu a melhor parte: Uma benção espiritual – sabedoria para viver

PORQUE SALOMÃO PEDIU A DEUS SABEDORIA?

- O versículo 9 responde: porque Deus o constituiu rei sobre um povo numeroso.

- E nessa tarefa Salomão tinha consciência de três fatos:

• 1º) Ele conhecia a história dos seus antecessores: Saul e Davi.
• 2º) Ele conhecia a história do seu povo.
• 3º) Ele conhecia a história do seu próprio coração, e ele sabia que o seu coração era corrupto.

- Charles Spurgeon, pregador batista do século 19, afirmou que o cristão deve sempre trazer nas mãos duas coisas:  em uma delas, a Palavra de Deus; na outra, o jornal do dia.  O jornal do dia para apresentar os fatos, e a Palavra de Deus para julgar esses fatos.

- Quando nós abrimos as páginas do nosso “jornal do dia” percebemos que há uma palavra que se destaca: Corrupção. Mas, o que é corrupção?
• Estamos acostumados a aliar o termo corrupção à desonestidade.
• Mas, a Palavra de Deus apresenta um aspecto mais amplo para o termo.
• Corrupção é quando obedecemos aos desejos, aos caprichos, às ordens, aos ditames do nosso coração. Quando isso acontece, inevitavelmente entramos em corrupção.

- Mas, o que há de errado com o nosso coração?  Há dois textos que apresentam os bastidores do nosso coração.

1. O primeiro deles está em Jeremias 17.9, diz: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?” Notem a força do texto! Jeremias está descrevendo o coração do homem como sendo desesperadamente corrupto. Podemos entender o texto da seguinte forma: se você tivesse a capacidade de perscrutar o meu coração você entraria em desespero devido o grau de malignidade que nele há. Da mesma forma eu entraria em desespero se sondasse o seu. Por isso Jeremias diz que nós não devemos confiar no nosso coração, pois ele é enganoso, não é confiável, é corrupto!

2. O segundo texto está no Novo Testamento. Em Mateus 15.18-19. No contexto os fariseus estavam censurando os discípulos de Jesus que comiam sem lavar as mãos, visto que os fariseus haviam inventado mais uma regra de purificação. Jesus os repreende e aborda sobre a corrupção do coração humano dizendo o seguinte: “Mas o que sai da boca vem do coração, e é isso que contamina o homem. Porque do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias”.

- Então, por causa da história dos seus antecessores, da história do povo de Israel e da história do seu próprio coração, Salomão pediu a Deus sabedoria.

- O versículo 11 deixa claro que esse pedido agradou muito a Deus, porque nesse pedido Salomão revelou duas coisas:
• 1º - Sua profunda humildade
• 2º - A sua total dependência de Deus

- O que acontece com aqueles que usam da sabedoria de Deus em sua vida?
• 1º) Felicidade ( 1 Reis 10. 8 )
• 2º) Paz ( 1 Reis 5. 12)
• 3º) Respeito ( 1 Reis 3. 28)

- Agora, o que acontece com aqueles que não aplicam a sabedoria de Deus na sua vida? Infelizmente o próprio Salomão é um resposta-viva. (Confiram em 1 Reis 11. 1-8)
• Salomão perdeu a sabedoria. E o que aconteceu com ele?
• Nesse período da sua vida Salomão escreveu um Livro chamado Eclesiastes.
• Você percebeu o tom pessimista do livro?
• “Tudo é Vaidade!” Vaidade nas Escrituras é algo sem valor, sem propósito.
• A mensagem que o Espírito Santo apresenta em Eclesiastes é: Aquele que não aplica a sabedoria de Deus na sua vida nada nesse mundo tem valor, tem propósito, tem objetivo.
• E a ilustração que Salomão dá é de uma pessoa correndo atrás do vento.


- Finalmente, irmãos, em que consiste a verdadeira sabedoria? O que é ser sábio? (Confiram no Salmo 111.10)
• E o que é temer? É obedecer.
• Aqueles que obedecem a Deus são sábios.

APLICAÇÃO

- Certamente você não tem um reino como Salomão, porém responsabilidades profundas se apresentam na carreira e vida cristã. Dentre as muitas obrigações destaco, segundo acredito, a maior delas: a Família. Você que é homem, sacerdote do seu lar, a família é o seu pequeno “reino”. A tarefa é extremamente difícil! Relacionamento com a esposa, criação de filhos e tarefas seculares nas desafiam diariamente. É justamente por isso, que eu e você, necessitamos da sabedoria e do poder do Alto. Amem!

Pr. Naziaseno Cordeiro Torres

sábado, 21 de agosto de 2010

Chamados à Pureza e a Perseguição

Barney e Cindy
Aquele que se coloca "na brecha" e tentar respirar o ar fresco e renovador da teologia reformada e, ao mesmo tempo, veda qualquer possibilidade de abrir espaço para o erro, o engano, é qualificado do outro lado do muro de intolerante, presunçoso, arrogante e puritano (ou neo). Esse último termo é o preferido do momento.
Até no meio reformado-calvinista percebo que muitos passeiam com a verdade tendo nela posto colera. Muitos teólogos doutos estão com a verdade sim - da mesma maneira que eu passeio com os meus poodles nas tardes do interior baiano, acorrentados.
Gostaria de ouvir muita gente boa andando livremente com a verdade: deixe-a passear soltamente nos jardins dos nossos cultos e liturgias. Quando isso acontecer ela retornará  trazendo, não uma bolinha de tênis, mas uma Confissão de fé, um diretório de culto e os catecismos. "Toma e lê..."

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

“Desigrejei! Em busca do Novo

Um fenômeno curioso tem acontecido nos nossos dias: a busca ansiosa pelo “novo”. É comum encontrarmos releituras de ideologias cristalizadas pela história com novas roupagens. Fala-se em Novo Calvinismo, Neoateísmo, Neopuritanismo, Neocapitalismo, Neoliberalismo .... Enfim, o “neo” está na moda!

Como comprovação dessa verdade, a revista Época publicou uma matéria de capa com o seguinte título (advinhe!): “Os Novos Protestantes”. A idéia básica que a matéria transmite é que os novos protestantes ensinam que o desejável pra os nossos dias “é despir tanto quanto possível os ensinamentos cristãos de todo aparato institucional.” Em outras palavras é simplesmente dizer: “Desigrejei!”.

A Eclesiologia ( a doutrina da Igreja) está no centro da discussão teológica atual. Novas nuances têm sido aplicadas afim de remodelar a forma antiga e tradicional da instituição-Igreja. A justificativa é tornar a mensagem do Evangelho mais atraente e, também, criar a real possibilidade de distinção do atual modelo, batido, sacralizado pelos neopentecostais.

Agora, é bom que se diga que esse processo de apresentar novas diretrizes para a Igreja não é algo realmente novo. Na trajetória da história eclesiástica várias situações foram infundidas. Abraão Kuyper, por exemplo, ensinava que deveria se fazer uma distinção entre a igreja como instituição e a igreja como organismo. Como “instituição, a igreja foi investida com três ofícios (profético, sacerdotal e real) e é chamada a pregar e administrar os sacramentos e a exercer a disciplina. Como organismo, ou corpo de crentes, ela deve se envolver em atividades sociais e levar a efeito o mandato cultural”. A crítica severa a Kuyper é que com o passar do tempo ele parecia dizer que a igreja verdadeira, não era a igreja como instituição, mas a igreja como organismo. Ou seja, ele pregava que a igreja como instituição existe para servir a igreja como organismo, equipando os santos para a sua tarefa no mundo.Qual tarefa? O engajamento político-social sob os auspícios do mandato cultural. Essa fase ficou conhecida na Europa, especificamente na Holanda, como o Neocalvinismo.
Igreja Presbiteriana em Capela do Alto Alegre/BA
por ocasião dos 150 anos da IPB

Hoje o que presenciamos é um novo modelo de Igreja. Agora, em Kuyper a Igreja deveria tomar consciência do seu mandato e entrar no mundo para influenciar todas as esferas da vida. Parece que a estratégia dos novos protestantes é totalmente contrária a Kuyper. Na realidade os novos protestantes querem preparar a Igreja para que o mundo entre nela e fique. Assim sendo, a igreja precisa ser remodelada para atender o cliente chamado Mundo. Quais são as reformas?

• 1º Esqueça o sermão bíblico expositivo. Palestra soa melhor aos ouvidos do cliente Mundo;

• 2º Templo? Isso é coisa do passado. Pequenos grupos, ou células, são mais interessantes;

• 3º E o que falar dos dízimos? O ofertório na hora do culto é politicamente incorreto para os nossos dias.

• 4º Não se identifique como evangélico, ou crente ou irmão.

• 5º o termo igreja é questionado. Os novos protestantes preferem termos como Comunidade, Estação, entre outros.

Bom, esses são os novos protestantes. Estão eles certos? A igreja institucionalizada está em crise? É preciso novas estratégias para alcançar o mundo? Eu prefiro as veredas antigas. O antigo evangelho. A marcha da Igreja é marcha “ré” - “re” de Reforma! A minha preocupação é que o novo protestantismo, com a sua bandeira de quebrar paradigmas, produza ao longo do tempo crentes superficiais - sem compromisso, sem comunhão, sem história, sem igreja.



Rev. Naziaseno Cordeiro Torres

terça-feira, 3 de agosto de 2010

NEO-ATEÍSMO, A CONSPIRAÇÃO MACABRA (PARTE II)

Na foto: Christopher Hitchens, Daniel Dennet, Richard Dawkins, Sam Harris
Conforme a postagem anterior, o neo-ateísmo tem a sua base teórica concretada nas idéias de Darwin, Freud, Marx e Nietzsche. Entretanto, o novo ceticismo se revela um desafio ainda maior para a fé cristã. Esses últimos receberam uma unção dobrada do espírito do maligno que fê-los apresentar ao mundo argumentos que, segundo eles, tornam os seus ensinamentos plausíveis e a crença em Deus insuportável. Bom, mas antes vamos apresentá-los. Eis os “Quatro Cavaleiros do Apocalipse do Neo-Ateísmo”:

Richard Dawkins - Nasceu no Quênia, em 1941. Parece ser o “queridinho” de Oxford - tal tradicional instituição de ensino, a fim de tirá-lo da Universidade da Califórnia, não olvidou esforços para seduzi-lo oferecendo-lhe a titularidade de uma das cadeiras mais famosas e mais bem provida de fundos de toda a universidade. Tornou-se célebre com o livro O Gene Egoísta. Em relação a Deus o ceticismo de Dawkins aflorou quando estava sendo catequizado aos nove anos quando percebeu que não acreditava em nada do decorara. No ano de 2003 escreveu um livro com o título “Capelão do Diabo” (baseado numa carta de Darwin a um amigo) dedicando-o a sua filha que possuía dez anos. Nesse livro ele afirma a teoria da evolução e suas implicações quanto à existência de Deus. Dez anos antes ele já havia atacado a fé bíblica em um ensaio intitulado “O Vírus da Fé”. Porém o seu Best-seller foi escrito em 2006: “Deus, Um Delírio” (permaneceu durante vários meses na lista do New York Times como o mais lido da América. Sem dúvida, Richard Dawkins é o mais venerado dentre os neo-ateus, e, também, o mais lido e ouvido.

Daniel Dennett – Nascido em Boston, 1942. Professor universitário na cadeira de filosofia na Universidade de Tufs. Bacharelou-se em Harvard e o seu doutoramento foi em Oxford (um ano antes de Dawkins receber sua graduação na mesma instituição). A expressão chave, sempre presente nos seus escritos, é a consciência humana. Segundo ele a consciência do homem tem de ser reduzida a um entendimento mecanicista e naturalista (O ensino de Agostinho-Calvino sensus divinitatis acaba com essa balela). Bom, em 2006, Dennet escreveu uma obra que o notabilizou: “A Religião Como Fenômeno Natural”. A tese é simples: a religiosidade no homem é um processo absolutamente natural. Explico (se for possível): seguindo os passos da evolução, aqueles que sobreviveram foram aqueles que acreditavam de alguma forma em Deus. Então, o cérebro humano percebeu que era vantajoso crer em Deus. Assim sendo, quimicamente a idéia do Ser Divino foi passando de geração em geração como um meio de sobrevivência. Entendeu? Nem eu (esses caras “se encantam mais com a rede do que com o mar”). No megafone da descrença ele ensina que a sua atividade é convencer os homens daquilo que antes era uma vantagem evolucionária, hoje é uma tremenda desvantagem.

Sam Harris – Nasceu em 1967 (essa é uma casta mais nova). Doutor em filosofia na área da neurociência. Por ser mais jovem, Harris é mais enfático nas suas ponderações em relação aos cristãos. O livro lançado em 2004 - O Fim da Fé: Religião, Terrorismo e o Futuro da Razão - é um ataque frontal à crença em Deus. Albert Mohler Jr resume a tese dessa obra. Leia e se assuste:
“O livro é uma ataque vigoroso ao teísmo e contém sarcasmo inacreditável. Harris sugere que a crença em Deus é inerentemente má, começando um impulso maléfico da mente e do espírito e levando, finalmente, a efeitos sociais perniciosos. Deus mesmo é um monstro, diz Harris – especialmente, o Deus da Bíblia, que não é um deus no qual pessoas sensatas e sensíveis creriam e a quem, muito menos, amariam. A crença em Deus, ele afirma, corrompe o homem”.

Há um detalhe preocupante: esse livro se tornou um dos livros mais vendidos daquele ano e ainda é um dos mais procurados em site como o Amazon.com. Pasmem! Não satisfeito, em 2006 lança outro livro: “Carta a Uma Nação Crista”. Harris escreve: “O propósito primeiro do livro é armar os secularistas de nossa sociedade, os quais acreditam que a religião deve ser mantida fora da política pública, contra os seus oponentes na direita cristã”. Nós vamos abordar sobre isso no final do post, mas já deu para perceber que o neo-ateísmo é mais danoso do que os ateus passados porque o novo ceticismo propõe e declara um engajamento político contra a religião, e eles são “missionários” no sentido de “evangelizar” o mundo com as suas crenças e/ou descrenças.

Finalmente, Chistopher Hitchens. Nascido em 1943. Os eventos de 11 de setembro tiveram um efeito significativo na sua cosmovisão. Daí começou a pregar que a fé representa um grande perigo e deve ser confrontada face a face (muito embora a sua crítica gira em torno do mundo islâmico). Como é obvio sua tese foi divulgado em um livro: Deus não é Grande: Como a Religião Envenena Tudo. Cito mais uma vez Albert Mohler Jr que resume o livro:
“Hitchens sugere que possui quatro objeções à fé religiosa: primeiro, ela entende erroneamente a origem do homem e do universo. Segundo, ele diz, a religião trabalha por combinar o máximo da serventia com o máximo do solipsismo. Os crentes são servis na mente, ele acusa, e totalmente auto-referenciais no que diz à verdade. Terceiro, ele diz, a religião é a grande causa da repreensão sexual. Quarto, a religião está, em última análise, fundamentada em uma maneira de pensar ambiciosa”.


Agora, vamos tentar responder à pergunta feita no post anterior: Por que os neo-ateístas são mais perigosos do que os céticos da geração passada?

1. Os neo-ateístas são “evangelistas” que divulgam suas teses não apenas no mundo acadêmico, mas sobretudo ao homem comum, ao leigo. Esse é o primeiro perigo! Veja o exemplo de Richard Dawkins. O livre O Gene Egoísta não foi escrito para a comunidade científicas, e sim para os leitores comuns. Da mesma forma a obra Consciousness, de Daniel Dannett, se tornou um dos raros livros científicos que realmente vendiam, visto que visava àquele leitor popular: que ler livro dentro do avião ou no metrô esperando um trem. Dannett já esteve no Brasil, e o Jornal Zero Hora o entrevistou. Eu chamo a sua atenção para resposta dada a seguinte pergunta:

“ZH – Fazer campanha pelo ateísmo com anúncios em ônibus, como ocorre na Grã-Bretanha, é correto? Não seria melhor manter o debate no campo acadêmico e cultural?”
Eis a resposta de Dennett: “Religião não é apenas um fenômeno acadêmico. Creio que é muito saudável ter o público em geral informado sobre a variedade de opiniões sobre religião sustentadas por seus vizinhos e concidadãos. Os anúncios que vi eram de bom gosto, muitas vezes divertidos, leves. Eu os aprovo. Quem se sentir ofendido deveria ser submetido a algum tipo de ajuste de conduta. Não têm o direito de ter suas próprias opiniões mais respeitadas do que as opiniões de outros cidadãos” (Daniel Dennett – entrevista no ZERO HORA.com -01/05/2010).

Explicando: Os anúncios são frases ateístas fixadas em ônibus londrinos – “Provavelmente não há Deus. Portanto, deixe de se preocupar e aproveite sua vida” (www.atheistcampaign.or). Como escreve o rev. Davi Charles Gomes, “um ateísmo militante e marqueteiro surge no playground intelectual e popular”.

2. Além de escrever sua tese para as massas, o neo-ateísmo defende abertamente que a evolução, e suas implicações quanto a existência de Deus, deveria ser discutida de modo público. Tal qual Golias, eles chamam os “Davis” para o debate aberto e franco. Evidentemente, não temos medo de um confronto, porém é preciso preparar o mundo cristão. A preocupação se dá pelo fato de vivermos numa geração de crentes superficiais que vivem num profundo analfabetismo bíblico. Estaria o crente preparado para debater com os discípulos dos neo-ateistas que estão, em toda a parte, crescendo mais e mais? É essa a questão.

3. Outro perigo: Os neo-ateus questionam qualquer tipo de autoridade e tradição. Dawkins afirma que é pernicioso usar a autoridade como razão para alguém crê. Ele criou a teoria do “meme” – conjuntos de idéias replicadas do pensamento. Assim, ele sugere que “os pais transmitem ‘memes’ aos filhos, da mesma forma como transmitem os genes”. Segundo ele isso é pernicioso. Com base nessa teoria ele aplica da seguinte forma: “tão somente porque alguém diz que algo é verdade, isso não é razão para que alguém creia que tal coisa seja, de fato, verdade”. Então, ele destila o seu veneno afirmando que mesmo alguém crendo em Deus isso só acontece devido ao condicionamento herdado. A solução apontada por ele é questionar profundamente a sua fé, não importa se você vai confrontar seus pais, o pastor, o padre, a religião... Para mim isso se chama rebeldia (vide Adão e Eva). Eu ainda não li, mas pela introdução, Sam Harris usa muito desse argumento no seu livro Carta a Uma Nação Cristã.

4. Outra teoria perigosa apresentada pelos novos céticos, principalmente Daniel Dennet, é o que ele denomina “crença na crença”. Diz MohlerJr.:
“Ele sugere que a crença em Deus não é tudo aquilo que muitos julgam que ela seja, pois, se você analisar por trás da aparência, descobrirá que o número de pessoas que crêem em Deus é menor do que a princípio se evidencia. Em vez de crerem em Deus, Dennett afirma, as pessoas crêem na crença. Em outras palavras, elas têm um entendimento funcional da religião... se realmente cressem, viveriam de modo diferente do que vivem”.
Vejam a sagacidade desse homem: ele desafia os crentes a apresentarem realmente a sua fé por meio das suas atitudes. O perigo se instala porque vivemos numa era de crentes sem compromisso e sem engajamento – fé sem obras. Em suma vivemos num terreno fácil para o ateísmo lançar suas raízes e germinar no mundo o secularismo.

5. Por fim, o argumento preferido dos neo-ateus é afirmar categoricamente que a fé em Deus é uma ameaça para a humanidade. É perigosa. É hostil. “Deus é um monstro”, diz Harris. O que está por trás da fé? Eles respondem: o 11 de setembro, a guerra entre católicos e protestantes na Irlanda, a “caça às bruxas” no início da colonização americana, as trevas da idade média, enfim – o caos. Argumentam que a fé em Deus leva a violência e o ateísmo é liberdade. O próprio Sam Harris se coloca como vítima constante de ameaça de morte por parte dos evangélicos. Por essa razão não pode dar nenhuma informação pessoal a respeito da sua vida particular. Na realidade é mais uma jogada de marketing. O seu objetivo é levar a opinião pública e a imprensa a um posicionamento contrário à fé. Eles jogam sujo!


CONCLUSÃO

Talvez, você afirme que não há motivos para preocupação, e o neo-ateismo não é um desafio para a fé Cristã. Afinal de contas, os que se declaram ateus são pouquíssimos. Realmente eles são minoritários. Nos EUA apenas 2% da população americana, e no Brasil 7,3% se declaram sem religião. Entretanto, é um grupo que tem crescido de forma assustadora no mundo. E os motivos que têm levado ao crescimento já foram elencados acima. Reafirmo o que disse anteriormente: o neo-ateismo encontrou um terreno fértil, visto que vivemos numa geração de crentes analfabetos doutrinariamente e sem muito compromisso com a ética cristã. O Conselho, evidentemente, para nós cristãos só poderia ser extraído da Palavra de Deus: é preciso estarmos “sempre preparados para responder a todo aquele que nos pedir razão da esperança que há em nós”. Em relação aos ateus de todos os tipos, o Salmo 2 é a vindicação: “Rompamos os seus laços e sacudamos de nós as suas algemas. Ri-se aquele que habita nos céus; o Senhor zomba deles. Na sua ira, a seu tempo, lhes há de falar e no seu furor os confundirá”. Amém!

Pr. Naziaseno Cordeiro Torres