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quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

As Crianças Pequenas e o Culto a Deus


Crianças pequenas devem participar do culto ao Senhor? Bem, em certo sentido a Bíblia diz que todos nós somos criancinhas, como Jesus indicou quando disse a seus discípulos: “Filhinhos, ainda um pouco estou convosco” (João 13:33). Portanto, em princípio, está claro que as crianças pequenas devem adorá-Lo. Mas há um outro sentido em que falamos “crianças pequenas”, e que, claro, se refere a bebês que ainda dão os primeiros passos. Que obrigação têm eles, se têm, no culto a Deus e, mais particularmente, que lugar eles têm, se têm, na reunião de culto a Deus? 

Como povo de Deus, nós devemos nos regozijar ao ouvir barulho de crianças em nosso meio. Isso é uma indicação da bênção que elas têm na aliança e de seu dom da vida. Deus dessa forma aumenta nosso número e avança seu reino através das gerações. Mas isso significa que, sem exceção, as crianças devem sempre estar presentes com seus pais na congregação? Este artigo busca oferecer algumas diretrizes bíblicas tanto para pais de crianças pequenas como para a congregação ao se reunir para adoração. 

A Menor das Crianças é Capaz de Aprender Grandes Coisas 
Crianças pequenas são esponjas quando se trata de absorver nova informação. Em Lucas 1:44 a Bíblia registra esta assertiva de Isabel, a mãe de João Batista, quando ela ouviu Maria: “Pois, logo que me chegou aos ouvidos a voz da tua saudação, a criança estremeceu de alegria dentro em mim”. Mesmo quando eles parecem não estar prestando atenção, as crianças menores com freqüência nos surpreendem quando as ouvimos recitar exatamente o que nós pensávamos que eles tinham deixado passar (às vezes, para nosso deleite ou desgosto). A partir do momento em que uma criança nasce (ou talvez mesmo antes disso), os pais começam a ensinar seus filhos falando, cantando e praticando perante eles a vida cristã. O fato de elas não poderem articular ou imitar imediatamente tudo o que compartilhamos com elas não nos leva a parar de ensiná-las. Nós sabemos que logo elas vão pegar e imitar o que lhes foi ensinado. Mesmo que a criança não entenda tudo o que ela está fazendo, ela está aprendendo que essas são as coisas que o povo de Deus faz. No seu tempo ela entenderá por quê. 

Não há nada mais importante para uma criança aprender do que o culto a Deus, privado e na congregação. Essa é uma das principais obrigações de todas as criaturas de Deus. Assim como ensinamos nossos filhos a andar e a falar, ao mesmo tempo nós deveríamos diligentemente ensiná-las as Escrituras e como elas devem adorar a Deus ao “sentarem em sua casa”, ao “andarem pelo caminho”, ao “deitar”, ao “levantar” (Dt 6:6-7). Nós temos um exemplo claro na Bíblia da importância desse treinamento desde cedo encontrado em 2 Timóteo 3:15, onde o apóstolo Paulo escreve a Timóteo, dizendo: “E que desde a infância sabes as sagradas letras que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus.” A palavra grega para “infância” neste texto é a palavra usada para descrever um bebê de berço. Sem dúvida, o infante Timóteo ouviu a palavra de Deus da boca de sua mãe fiel Eunice e de sua avó Lóide desde que nasceu. 

Ser adulto não é garantia de que se aprenderá ou compreenderá a verdade de Deus. Jesus é grato porque a verdade é revelada mesmo aos imaturos: “Naquela hora exultou Jesus no Espírito Santo e exclamou: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas cousas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado” (Lc 10:21). Enquanto possa ser um mistério para os adultos, contudo Deus é claramente capaz de se comunicar com e receber louvor até mesmo de bebês. De fato, nós lemos a profecia no Salmo 8:2 de que, na verdade, é assim que acontece; uma profecia que foi cumprida em Mateus 21:15-16: “Mas vendo os principais sacerdotes e os escribas as maravilhas que Jesus fazia, e os meninos clamando: Hosana ao Filho de Davi, indignaram-se, e perguntaram-lhe: Ouves o que estão dizendo? Respondeu-lhes Jesus: Sim; nunca lestes: Da boca de pequeninos e crianças de peito tiraste perfeito louvor?” Embora os cristãos não devam ser místicos, entretanto, também não devemos rejeitar o fato de que há mistérios nos caminhos de Deus, e que o Espírito, assim como o vento, “sopra onde quer” (Jo 3:8). 

Crianças são Membros da Comunidade do Pacto 
Nós precisamos entender de forma clara que todas as promessas de Deus com relação ao pacto pertencem a “ti e teus filhos”. Os filhos da aliança são membros da comunidade da aliança e tem direito a seus benefícios. Assim como a circuncisão era um benefício dos judeus [“Muita, sob todos os aspectos” (Rm3:2)], assim também, aqueles que receberam o sinal do pacto e selo do batismo têm todos os privilégios do pacto. Paulo especialmente aponta para o fato de que o principal privilégio deles é que a eles foram dados “os oráculos de Deus”. Em outras palavras, a Palavra de Deus é dada a todos os membros da comunidade do pacto, incluindo as crianças pequenas. 

Quando Moisés reuniu a congregação do Senhor, pelo que Deus os estabeleceu como Seu povo da aliança, a congregação estava toda incluída: “Vós estais hoje todos perante o Senhor vosso Deus: os cabeças de vossas tribos, vossos anciãos e os vossos oficiais, todos os homens de Israel: os vossos meninos, as vossas mulheres, e o estrangeiro que está no meio do vosso arraial; desde o vosso rachador de lenha até ao vosso tirador de água; para que entres na aliança do Senhor teu Deus, e no seu juramento que hoje o Senhor teu Deus faz contigo; para que hoje te estabeleça por seu povo, e ele te seja por Deus, como te tem prometido, como jurou a teus pais, Abraão, Isaque e Jacó. Não é somente convosco que faço esta aliança, e este juramento, porém com aquele que hoje aqui está conosco perante o Senhor nosso Deus, e também com aquele que não está aqui hoje conosco” (Dt 29:10-15). 

O pacto de Deus com seu povo obviamente inclui não apenas seus filhinhos, mas até mesmo aqueles ainda não são nascidos. Esse pacto continua na Nova Aliança, onde a promessa é ratificada no dia de Pentecoste: “Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos, e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor nosso Deus chamar” (At 2:39). As epístolas do Novo Testamento são com freqüência endereçadas aos membros constituintes da família da aliança, i.e., maridos, pais, mulheres, mães, filhos e servos (cf. Ef 5:6; Cl 3:18-25). 

Os filhos eram centrais na obra da Antiga Aliança e, sendo que a Nova Aliança não é senão uma expansão da Antiga Aliança, eles continuam a ser centrais na obra redentora de Deus entre Seu povo. No coração da aliança de Deus com Abraão estava a condição que Deus estabeleceu a Abraão: “Porque eu o escolhi para que ordene a seus filhos e a sua casa depois dele, a fim de que guardem o caminho do Senhor, e pratiquem a justiça e o juízo; para que o Senhor faça vir sobre Abraão o que tem falado a seu respeito” (Gn 18:19). 

Crianças Pequenas Devem Ser Incluídas na Assembléia do Culto Público? 

Esta é uma importante pergunta. Nós encontramos precedentes bíblicos tanto para resposta afirmativa como para negativa, ou talvez melhor dizendo: às vezes, sim; e às vezes, não. Com freqüência, quando a Bíblia se refere à assembléia do povo de Deus ou à congregação, as crianças menores estão incluídas. Por exemplo, em 2 Crônicas 20:13: “Todo o Judá estava em pé diante do Senhor, como também as suas crianças, as suas mulheres, e os seus filhos”; e em Josué 8:35: “Palavra nenhuma houve, de tudo o que Moisés ordenara, que Josué não lesse para toda a congregação de Israel, e para as mulheres, e os meninos, e os estrangeiros, que andavam no meio deles”. Da mesma forma, em Joel 2:15 nós lemos: “Tocai a trombeta em Sião, promulgai um santo jejum, proclamai uma assembléia solene. Congregai o povo, santificai a congregação, ajuntai os anciãos, reuni os filhinhos e os que mamam; saia o noivo de sua recâmara, e a noiva de seu aposento.” Logo após este chamado de trombeta nesta profecia (2:28-32), Pedro nos diz que Joel estava falando do derramamento do Espírito Santo no Dia de Pentecoste. 

O próprio Jesus pensou que era apropriado que crianças fossem trazidas à sua presença: Marco 10:13-16: “Então lhe trouxeram algumas crianças para que as tocasse, mas os discípulos os repreendiam. Jesus, porém, vendo isto, indignou-se e disse-lhes: Deixai vir a mim os pequeninos, não os embaraceis, porque dos tais é o reino de Deus. Em verdade vos digo: Quem não receber o reino de Deus como uma criança, de maneira nenhuma entrará nele. Então, tomando-as nos braços e impondo-lhes as mãos, as abençoava.” Novamente, a palavra grega usada aqui é “bebês”. Parece ser um erro proibir mesmo as crianças mais pequenas de participar do culto a Cristo. 

Como regra, os filhos da aliança devem estar presentes com a congregação no culto. Eles fazem parte do corpo unido e por isso devem fazer parte do culto unido. Isso faz parte da essência de quem eles são como filhos do pacto, contudo, isso não é o mesmo que dizer que seja sempre necessário que esses pequeninos estejam presentes em todo tipo de reunião congregacional. Algumas reuniões podem não ser apropriadas para crianças muito pequenas. No Velho Testamento nós vemos que três vezes ao ano apenas os homens apareciam perante o Senhor, e em Neemias 8:2 nós lemos: “Esdras, o sacerdote, trouxe a lei perante a congregação, assim de homens como de mulheres, e de todos os que eram capazes de entender o que ouviam. Era o primeiro dia do sétimo mês.” Algumas reuniões podem ser especialmente engendradas para homens, ou pastores, ou alguma outra ocasião especial. Elas podem ser muito longas para crianças pequenas, como no caso de conferências com múltiplas sessões, ou (como no caso citado acima) o assunto simplesmente esteja além de sua compreensão. Contudo, essas reuniões são primariamente mais para instrução do que para culto. 

Quando crianças são trazidas ao culto é essencial que os pais estejam conscientes do fato de que não basta que simplesmente elas estejam presente, mas também que elas devem ser treinadas no modo apropriado de cultuar. As crianças devem ser ensinadas a sentar e permanecer quietas em respeito a seus pais e aos outros, e elas devem também aprender que a razão disso é a honra e a adoração a Deus. Os pais, da mesma forma, têm uma obrigação para com os outros adoradores e para com o próprio Deus em não permitir que seus filhos se distraiam no culto. É responsabilidade dos pais ensinar, disciplinar e manter controle de seus filhos no culto. O objetivo é treinar as crianças a exercer autocontrole e aprender como adorar. 

Os pais devem estabelecer de forma clara as regras de comportamento para suas crianças, assim como ajudá-las a entender a razão por que elas estão no culto. Durante o processo deste treino as crianças inevitavelmente cruzarão linhas e precisarão de mais ensino, reprovação, correção e instrução na justiça (2 Tm 3:16). Eu mencionei na introdução que as congregações “deveriam se regozijar ao ouvir o barulho de infantes em seu meio”. Um dos sons sobre o que elas deveriam se regozijar são os sons da disciplina: uma criança senso discretamente corrigida por seu pai ou mãe, ou até o som ocasional de choro ao serem elas levadas do santuário para uma forma mais intensa de repreensão. 

Pais com crianças muito pequenas, ou aqueles com filhos no processo de serem treinadas, deveriam sentar próximo à porta e estar preparadas para discretamente sair do santuário, se seus filhos começarem a chorar, ou, do contrário, distrairão os outros. Um choramingo ou acalento ocasional é normal e geralmente não requer muito mais que pegar a criança e embalá-la ou dar-lhe palmadinhas nas costas. Contudo, se isso não for o suficiente para sossegar a criança, os pais devem, por cortesia e respeito pelos outros e pelo culto, retirar seu filho da assembléia até que ele tenha sido acalmado. 

Crianças que estão começando a andar são um desafio diferente para os pais. A esta altura elas deveriam estar treinadas a entender o que a palavra “não” significa e deve-se esperar que permaneçam sentadas durante o culto tranqüilamente. Se fracassarem em fazer assim, então elas devem ser tratadas como em qualquer outra desobediência obstinada (i.e., pecado) e a disciplina apropriada deve ser aplicada. Todos nós entendemos que elas são “crianças pequenas”, mas lembre-se, nossa responsabilidade como pais é trazê-las à maturidade ensinando-as o que devemos e insistindo que elas obedeçam. Se uma criança está geniosa porque esteve doente, ou está nascendo dente, ou tem alguma outra razão legítima para não se sentir bem, então, talvez, não seja adequado que ela esteja presente com a congregação nesse dia. Entretanto, mesmo cansada ou doente as crianças não devem ser permitidas que pequem. Algumas sugestões práticas para pais de crianças que estão começando a andar são:
 
  1. Fique certo de que você deixou claro quais são as regras de comportamento com relação ao que você espera de seu filho durante o culto (ex: não falar, não fazer outros barulhos, mexendo-se, rasgando papel, dando voltas ao redor do assento, etc.).Ensine-o para o que é o culto, usando termos apropriados para a sua idade. Pratique durante o culto doméstico como eles devem se comportar no culto público: ensine-os a ficar quietos quando a Bíblia é lida, a ouvir o pregador, e a cantar salmos e hinos. Se você faz culto regularmente e com ordem em casa, você não deverá ter problema no culto público no Dia do Senhor.
  2. Pais sabem quais são as necessidades de seus filhos. Algumas crianças precisam queimar um pouco de energia (ex: correndo e brincando), enquanto outras é melhor que não se firam antes ou entre os cultos. Em ambas, os pais são responsáveis por ajudá-las a estarem preparadas para o culto e as crianças têm o dever de obedecer aos seus pais e a se conduzirem de maneira respeitosa.
  3. Leve-os à sala de descanso e para tomar água antes ou entre os cultos.
  4. Se seu filho quebrar as regras durante o culto, e uma correção menor não o fizer se conformar, então os pais deverão retirar-se com a criança, discipliná-la e trazê-la de volta. Levá-la simplesmente para fora do culto ou levá-la à sala de berço sem disciplina não funcionará. Eles simplesmente aprenderão que seu mau comportamento os habilita a manipular seus pais.
  5. Quando os pais ensinam a seus filhos de forma consistente que o que eles dizem é sério e os punirão de forma consistente se eles não obedecerem, suas crianças estarão mais inclinadas a atender à correção sussurrada durante o culto.
  6. Os pais devem ter em mente que o “culto de uma criança que está aprendendo a andar” vai parecer diferente do culto adulto. Elas podem segurar o hinário de cabeça para baixo, ou dizer amém na hora errada. Além do mais, isso variará de criança para criança e elas não aprenderão todas do mesmo jeito ou ao mesmo passo. O importante é que elas estão aprendendo como adorar.
E Sobre Berçários? 
É óbvio que nas Escrituras há um silêncio sobre aquilo que passamos a chamar de berçário. O princípio bíblico que governa esta questão é o fato de que os pais são responsáveis por seus filhos. A igreja não tem nenhuma obrigação específica de providenciar serviços com crianças, embora certamente obras de misericórdia possam conclamar por ajuda voluntária em circunstâncias especiais. Todos vimos com simpatia os fardos de uma mãe de primeira-viagem ou uma mãe com muitos filhos. Às vezes, ela se sente sobrecarregada com suas responsabilidades e pode pensar: “Não vale a pena ir à igreja, se tenho que lidar com todas essas crianças.” Talvez as sugestões seguintes possam ser de alguma ajuda: 

  1. Os pais deveriam providenciar algum tempo livre para as mães durante a semana, cuidando das crianças eles mesmos ou pelo menos assegurando que sua esposa tenha outra forma de assistência de seus constantes labores. Isto evitará que o domingo pareça ser o único tempo que ela tenha uma folga.
  2. Membros regulares da igreja devem trazer seus filhos ao culto imediatamente, a fim de começar a treiná-los em uma das coisas mais importantes que Deus nos chama a fazer: adorar.
  3. Membros amigos na igreja ou parentes podem ser chamados para auxiliar nessa tarefa de ajudar com as crianças durante o culto, especialmente quando há muitas crianças para cuidar.
  4. Os diáconos devem assegurar que os assentos próximos à porta do santuário permaneçam disponíveis para pais com crianças pequenas a fim de facilitar melhor uma saída necessária.
  5. Os diáconos, onde for possível, poderiam providenciar uma “sala do choro” para mães e seus filhos. Essa sala poderia ser equipada com som, vídeo ou um vidro com película espelhada de modo que as mães possam ainda receber alguma porção do culto, se elas precisarem estar ausentes temporariamente.
  6. Uma lista de voluntários para trabalhar no berçário deveria ser mantida em caso de necessidades especiais, especialmente para visitantes cujas crianças possam não ficar sob controle ou não estar preparadas para permanecer sentadas durante o culto.
Conclusão
Obviamente, crianças pequenas devem fazer parte do culto. Elas estão prontas para participar junto com a congregação tão logo os pais assumam a responsabilidade de ensinar, treinar e disciplinar seus filhos para o culto. Certamente, há exceções em que não será sábio ou apropriado que crianças pequenas estejam presentes numa reunião congregacional. Nesses casos, embora os pais continuem responsáveis pelo cuidado de seus filhos, um berçário voluntário poderá se provar um genuíno serviço cristão para se lidar com essas necessidades temporárias. Quando os pais levam a sério sua responsabilidade em treinar seus filhos para participar do culto do Senhor (respeitando as necessidades dos outros presentes), então seus pequeninos serão um deleite para todos: especialmente para o Senhor. Da mesma forma, a paciência, orações e auxílio dados a esses pais e crianças pelo resto da congregação facilitará a preparação dos filhos da aliança para o culto. Esse labor será muito válido quando outra geração de crianças for habilitada para servir e adorar fielmente ao nosso glorioso Deus.

Robert [Randy] Booth tem sido pastor da Igreja Presbiteriana do Pacto da Graça (PCA) em Texarkana, Arkansas, nos últimos 16 anos. Ele também serve como diretor da Covenant Media Foundation e é um membro do corpo docente da Veritas Classical Christian School, e é o autor do livro Filhos da Promessa. 

Extraído do Ordained Servant vol. 8, nº 4 (Outubro 1999)

sábado, 1 de outubro de 2011

Uma avaliação incisiva e contundente do movimento pentecostal, escrito por um pastor que passou mais de 30 anos dentro do movimento. É uma conversa informal que foi transcrita. O pastor e a sua igreja saíram do pentecostalismo e se tornaram a Igreja Reformada de Londrina.

1). O que o irmão citou sobre o Pentecostalismo realmente não é tudo. Porque o que acontece lá dentro é muito, muito pior. Eu estive mais de trinta (30) anos dentro daquele movimento. Vi quase tudo o que ocorre lá dentro. É de arrepiar. Hoje, depois que o bom Deus abriu os meus olhos, vejo o quanto eu estava enganado. Sair do Pentecostalismo, para mim, foi uma das maiores bênçãos da minha vida. Nesses anos todos em que estive lá dentro a única coisa boa que posso falar de lá é que há forte motivação e entusiasmo para fazer as coisas. Os pentecostais são muito dedicados. Mas, diga-se de passagem, os Mórmons, Testemunhas de Jeová e Maometanos também o são. Muitos dos pentecostais também são muito sinceros e realmente querem agradar a Deus, mas estão cegos. Têm um zelo sem entendimento (Rom. 10.2).


2). Eu comecei a conhecer o Evangelho numa igreja pentecostal. Eles não davam ênfase na leitura da Bíblia, mas eu queria conhecer a Palavra de Deus. Fui ensinado que os demais crentes, evangélicos não tinham o Espírito Santo. Também fui ensinado que os pastores são ungidos de Deus, quase infalíveis. Ninguém podia julgar o que diziam. Ai daquele que tocasse o “ungido de Deus”. Seria amaldiçoado. Aliás, amaldiçoar as pessoas que discordam deles é uma prática comum no meio pentecostal. Eu mesmo fui vítima dessa maldição algumas vezes. Dois líderes que mais considerava me amaldiçoaram.

3). Línguas estranhas. Aqui foi onde tudo começou. O movimento pentecostal começou com a chamada “segunda bênção”, que tinha como sinal ou evidência o “falar em línguas”. Todos ali são quase que obrigados a falar em “línguas”. Durante todo esse tempo que estive ali eu nunca ouvi uma língua estrangeira ou um dialeto. O que ouvia eram algaravias, - sons incompreensíveis que não dizem nada e que cada um interpreta como quer. As “profecias” eram sempre em torno de coisas óbvias, ou coisas que ninguém podia provar, e até bobagens como “profecias” sobre a vida dos outros, relacionamentos, vestimentas, etc; as “revelações” nunca podiam ser comprovadas. Se era sobre alguma enfermidade, geralmente nem mesmo a própria pessoa tinha conhecimento da enfermidade. Assim por diante.

4). Mais tarde alguns setores do movimento pentecostal não enfatizavam tanto a necessidade do falar em “línguas”, mas o ensino sobre uma “segunda benção”, uma experiência após a conversão, continuou sendo ensinado. Essa “segunda benção”, não é de graça ou por graça. Você tem que “pagar o preço”. Oração, jejuns, santificação, busca, busca e mais busca. E mesmo assim, nem todos a recebiam. Eu ficava desesperado. Achava que não era crente. Pensava que Deus não me amava. Após anos de angustiante luta pela “benção” que nunca vinha, fui ensinado a tentar emitir alguns sons com a boca. Qualquer coisa servia – glo-glo-glo-glo... alabas-alabas-alabas... ripalá...balalá... etc. De repente você está “falando em outras línguas”. Quando não lhe vem nada a mente você fica observando como os outros falam e você os imita. Quem está fora do movimento vê o absurdo, mas quem está lá dentro acha aquilo normal. Fui ensinado a não pensar mas apenas sentir. Se alguém não consegue “falar em línguas” é porque tal pessoa é muito racional. “Não pense” diziam “apenas flua, deixe o espírito fluir”. É verdade que há também os que “fluíram” a coisa sem muito esforço, mas a maioria pena para consegui-lo.

5). Depois que você “aprende” a balbuciar as algaravias, você fica dependente delas e não consegue mais orar sem que aquela coisa lhe encha a mente. É maligno! Todos que “oram em línguas” (algaravias) precisam de libertação. Precisam desaprender aquilo que aprenderam. As algaravias atrapalham você de orar, porque a oração deve ser pensada e quando você pronuncia as tais algaravias não precisa pensar em nada, ou pior pode pensar em qualquer coisa, menos no que está falando. É ridículo!

6). Quando numa reunião todos começam a dançar e falar algaravias, uma ‘alegria’ geral toma conta do ambiente e vira uma “farra”. Um solta gargalhadas, outro cai ao chão, outro pula, treme, etc... Claro que isso não acontece em todas as reuniões. Mas acontece demais por lá. Os pentecostais são ávidos por novidades, e não pelas “antigas veredas” (Jer. 6.16).

7). Espiritualidade de fato, nunca vi ali dentro. Vi, isso sim, muita carnalidade. As pessoas “falavam línguas” mas mentiam, roubavam, adulteravam, brigavam, agiam com brutalidade, faziam negócios escusos, enganavam os irmãos, eram insensíveis, deselegantes, etc. Isso tudo eu vi, e não uma só vez, mais muitas vezes. Eu poderia falar indefinidamente, por horas. De modo que o tal ‘enchimento’ do Espírito não adiantava nada.

8). O que me fez sair de lá? Primeiro é Deus quem nos abre os olhos. É exatamente como na conversão ou como para alguém sair de uma seita. Só Deus. Mas por outro lado, vários fatores me motivaram a sair daquele movimento. Primeiro eu via que, embora nos dissessem que conosco acontecia exatamente igual como no primeiro século da Igreja, eu nunca vi, nem as línguas, nem os sinais apostólicos, nem as maravilhas que aconteceram no primeiro século. Em mais de 30 anos eu nunca vi algo que realmente me reportasse aos tempos apostólicos. Nunca. Nada. A falsificação é bem ruim. Havia uma preocupação dos pastores com o falso, isto é, crê-se que muito do que acontece no meio pentecostal é falso, mas que existe o verdadeiro. Mas enquanto se está atrás do suposto “verdadeiro” todos acabam envolvendo-se com o falso.

9). Eu via que na Bíblia era muito diferente. E ficava deprimido por não ver acontecendo aquilo em nosso meio. Claro, nem podia ser diferente, pois a época dos milagres apostólicos já passou. Os apóstolos passaram. Os sinais dados por Deus para autenticar a mensagem apostólica também ficaram no passado. Demorei para entender isso, mas entendi a tempo. Li muitos livros antigos, dos homens sérios do passado. Então vi que algo estava errado. Ou com eles ou conosco.

10). Eu aprendi a observar a história da Igreja. Temos muito a aprender com a história. A Igreja de Cristo existiu na terra por 1900 anos sem o movimento pentecostal. Irmãos e irmãs, enfrentaram Roma, os Césares, os Papas; encararam as feras, as arenas, as piras ou fogueiras, escreveram livros que nos abençoam até hoje, e tudo isso fizeram “sem o Espírito”??? Será que aqueles irmãos não foram cheios do Espírito??? Segundo os pentecostais, só eles têm o Espírito e essa bênção foi descoberta só pelo final do século XIX e início do século XX. Teria Deus deixado Sua Igreja na terra por 19 séculos sem uma bênção tão especial e necessária??? E se aqueles irmãos do passado não tinham essa bênção, como conseguiram enfrentar o que enfrentaram? Vencer e trazer a chama do Evangelho até nossa geração? E mais, se eles não receberam o Espírito Santo porque não buscaram, então eles cometeram um grande erro. O fato é que eles foram muito diferentes dos crentes das últimas gerações. Então ou eles erraram lá ou nós erramos cá. Os dois grupos não podem estar certos. Um dos dois está errado. E eu prefiro crer os irmãos (remanescentes) daqueles 19 séculos estavam certos, e os pentecostais estão errados.

11). Há alguns anos fizemos um estudo sobre os efeitos do movimento pentecostal sobre a Igreja, seus principais expoentes, e vimos que esse movimento dividiu, criou inimizades, e seus principais líderes se envolveram com falsos ensinos, heresias, escândalos morais, crimes, etc. Por esse estudo eu vi onde desembocou esse movimento. Toda heresia, toda irreverência, toda adulteração nos cultos, todo mundanismo dentro das igrejas, todo comércio vergonhoso do evangelho que vemos hoje, tudo isso teve sua origem no movimento pentecostal. Se não tudo, pelo menos 99%. Disso estou certo. Outra coisa que chamou-me a atenção foi que todos os livros profundos sobre teologia, comentários bíblicos, etc, foram escritos por não-pentecostais. Dos escritores e teólogos pentecostais só li coisas superficiais e de pouca utilidade.

12). A experiência (negativa) também ajudou bastante em minha decisão de abandonar o pentecostalismo. Eu havia sido ensinado a não aceitar nenhuma doença. Contudo eu tenho enxaqueca e nunca fui curado. Deus tem orientado o tratamento e hoje estou muito melhor. Deus me ensinou que ninguém tem o dom de curar hoje. Ele cura, quando assim deseja, mas se não, Ele irá sustentar nossa vida com Sua graça. E esse é o melhor para nós. Contudo, vi pessoas declarando que estavam saudáveis, confessando que não estavam doentes, que não aceitavam nem mesmo o diagnóstico médico, as vi morrerem doentes e brigando com Deus e revoltadas com Ele. Minha esposa é médica. Ela me conta que atende inúmeras pessoas evangélicas, principalmente das igrejas pentecostais e carismáticas, que estão doentes, deprimidas, agitadas, perturbadas emocionalmente, desequilibradas. Muitas dessas pessoas são líderes em suas igrejas (pastores, presbíteros, líderes de célula, líderes de coral, integrantes de bandas, etc. Hoje eu sei que o pentecostalismo faz muito mal à saúde das pessoas.

13). Se você falar com um pentecostal, talvez ele aceite que existe muita coisa falsa por lá – línguas falsas, curas falsas, revelações falsas – mas ele continua crendo que existe o verdadeiro. Agora, eu nunca vi nada ali que fosse digno de ser testemunhado. De fato, tenho é muita vergonha do meu tempo no pentecostalismo. Mas creio que o Deus Soberano usa todas as coisas para nos ensinar.

14). Outra observação que me fez aborrecer o pentecostalismo foi quando comprovei que não éramos os únicos que “falávamos em línguas” (algaravias), mas que isso era também “privilégio” dos Católicos Romanos Carismáticos, adoradores da Virgem Maria (ou melhor, da Deusa-Mãe), também dos Espíritas, invocadores de estranhas entidades, e também dos Mórmons que seguem o falso profeta Joseph Smith e seu anjo Moroni, e que até os Hindus e Maometanos “falam línguas” (algaravias). Quando vi que os pentecostais estavam na mesma categoria dessas seitas, isso me enjoou. E não apenas eles manifestam as algaravias, mas também fazem curas e milagres muito parecidos com os curandeiros pentecostais.

15). O crescimento espantoso do movimento pentecostal também me encucou. O Senhor Jesus disse que a porta é estreita e o caminho apertado e são poucos os que acertam-nos. Então, multidões não entram pela porta estreita e sim pela larga. Elas não andam no caminho restrito e sim no espaçoso e liberal. Quando os pentecostais proclamam que estamos vivendo um grande avivamento, caem num ridículo porque nunca tivemos uma geração de crentes incrédulos, desobedientes, mundanos, imorais. Políticos evangélicos são corruptos, cantores gospel são verdadeiros mercadores, pastores, ou bispos, bispas, apóstolos e apóstolas são trambiqueiros. Nunca se barateou tanto a mensagem do evangelho, nunca se vulgarizou tanto a mensagem da cruz do Calvário, nunca as coisas estiveram tão vergonhosas. Avivamento? Onde? O que vemos, isto sim, é um reavivamento do paganismo, do espiritualismo, do misticismo, da fé metafísica. Mas não um avivamento da Igreja de Cristo. Ainda não.

16). Quem está fora do pentecostalismo percebe que eles dão uma ênfase no Espírito Santo em detrimento de Jesus Cristo. Mas o que ocorre é pior que isso. Nem mesmo o Espírito Santo recebe qualquer honra ali. Quando eles enfatizam o Espírito Santo é só por causa do Seu poder. Tudo o que querem é o poder do Espírito para fazerem maravilhas. Então, de fato, nem mesmo é a Pessoa do Espírito que enfatizam, mas o poder dele. E não querem o poder do Espírito para serem bons esposos, bons pais, bons cidadãos, bons políticos, bons ministros de Cristo, mas querem ser poderosos para serem adorados como pequenos deuses. É só por isso que falam muito no Espírito Santo.

17). Li sobre os antídotos que vocês sugeriram para resguardar as igrejas sadias do veneno do pentecostalismo. Achei-os bons, mas temos que ser absolutamente radicais. Não podemos ceder nem um milímetro. Se abrirmos um milímetro o mal entra e aí não há limites. Vejo que muitos crentes históricos pensam que a coisa não é tão grave. Digo que é muito pior do que se pode imaginar. Por isso precisamos nos humilhar debaixo das mãos de Deus e lhe pedir misericórdia.

Nelson Nincao - Igreja Reformada de Londrina



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sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Homenagem ao Presbítero Israel Peixoto

Presb. Israel - último à direita





Não sei… Se a vida é curta
Ou longa demais pra nós,
Mas sei que nada do que vivemos
Tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas.

Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.

E isso não é coisa de outro mundo,
É o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela
Não seja nem curta,
Nem longa demais,
Mas que seja intensa,
Verdadeira, pura… Enquanto dura.

Cora Coralina (1889-1985)

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Saúde Espiritual

Semelhantemente, são estes os semeados em solo rochoso, os quais, ouvindo a palavra, logo a recebem com alegria. Mas eles não têm raiz em si mesmos, sendo, antes, de pouca duração; em lhes chegando a angústia ou a perseguição por causa da palavra, logo se escandalizam. (Marcos 4:16-17)

Já vi muita gente dizer que estava bem de saúde e depois cair de cama. Há casos de pessoas que não estavam sentindo absolutamente nada de anormal em sua saúde e que vieram até a falecer. Isso porque a sensação de bem estar que experimentamos nem sempre corresponde à situação real de saúde de nossos corpos. Nunca passei mal por causa de pressão arterial alta; mas, depois de colocar um aparelho no braço durante 24 horas, percebi que a mesma oscilava durante o dia e atingia uma medida não muito saudável; o fato de não sentir nada não queria dizer que eu não tinha nada. Penso que a nossa saúde espiritual também se assemelha muito a nossa saúde física neste particular. O fato de acharmos que estamos espiritualmente bem não significa que seja uma percepção verdadeira.

Às vezes, aferimos nossa comunhão com Deus e com a igreja com base na experiência que estamos vivenciando no momento. Tudo parece muito bem, mas, na verdade, algo está muito errado. Achamos que estamos bem espiritualmente se estamos bem empregados, não temos problemas de saúde, não brigamos com ninguém na igreja, não falamos palavrão, vamos aos cultos e trabalhamos em alguma atividade eclesiástica. Mas, de acordo com o texto de Marcos, essa situação definitivamente pode não corresponder à realidade.

A igreja de Corinto achava que estava muito bem porque era rica em dons espirituais. Mas eles eram altivos, estavam divididos e toleravam uma situação pecaminosa grave dentro da igreja. A igreja de Laodicéia era rica e abastada e achava que não precisava de mais nada. Mas o Senhor Jesus diz a ela: “...nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu” (Ap 3:17). O que essas igrejas achavam a respeito delas mesmas estava equivocado porque elas aferiam sua comunhão com Deus com base apenas nas experiências exteriores vividas no momento.

A experiência pode parecer importante e, num certo sentido, ela é; mas o profeta Jeremias nos informa que a nossa capacidade de aferi-las como verdadeiras está corrompida, “pois Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?” (Jeremias 17:9). Portanto, só Deus pode nos dar a certeza de que temos comunhão com Ele. E Ele faz isso através do Seu Espírito que opera em nós por meio da Palavra de Deus. Assim como a sensação de bem estar de nossos corpos deve ser aferida através de exames médicos, a nossa saúde espiritual deve ser aferida mediante as Escrituras Sagradas.

O coração do homem é tão corrompido que é capaz de abrigar pecados, falsas doutrinas, porfias, e outras iniquidades e achar que está tudo bem. Sinceridade não é suficiente para atestar nossa saúde espiritual, pois apesar de parecer espiritual, não tem “raiz em si mesma”; mas o que importa é a fidelidade a Deus e à Sua Palavra.

Uma pessoa espiritual é aquela que Deus se agrada em olhar e guardar. Ele mesmo diz quem são essas pessoas: “O homem para quem olharei é este: o aflito e abatido de espírito e que treme da minha Palavra” (Isaías 66:2)



Rev. Mauro Renato, pastor na Igreja Presbiteriana de Boa Esperança, Rio de Janeiro. 

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

AMOR À PÁTRIA


No dia 07 de setembro o Brasil comemora o dia da sua tão sonhada e sangrenta independência. Há 189 anos, as margens plácidas do rio Ipiranga testemunharam o brado retumbante de um povo heróico que anelava tanto pela sua independência e soberania, que a própria vida não lhe fora custosa, ao ponto de preferir a morte a continuar à mercê da tirania.

Contemplar a coragem de homens como Dom Pedro que afrontou os valores da escravidão, de Tiradentes que acabou executado por defender a liberdade de nosso país durante o processo da Inconfidência Mineira, e de tantos outros que anteriormente morreram na luta por este ideal, nos inflama e desafia a despertarmo-nos da dormência causada pelo marasmo da injustiça e corrupção, bem como nos insufla a amarmos e valorizarmos nosso solo pátrio.

Orgulho de ser brasileiro? Não! Orgulho é um sentimento pecaminoso que faz uma ponte curta da alegria para a jactância, impedindo-nos de enxergar os erros, tornando-nos insuportáveis do ponto de vista do alheio.

Desprezo pelo Brasil? Também não! Este outro extremo que voluteia na ingratidão e impede-nos de crescer, nos torna traidores de nós mesmos e cria uma atmosfera tão negativa que fatidicamente nos exila no abismo da insatisfação.

Amor à Pátria! Isto sim deve haver em nosso coração! Amor que não menospreza nem romantiza; amor que aceita e se identifica; amor que respeita e valoriza; amor que aplaude e denuncia.

Deus “amou o mundo de tal maneira”. Ele amou nossa pátria terrestre, se identificou com ela, encarnou-se nela e morreu por ela a fim de salvá-la. Assim também nós, seus filhos, instigados por tão superior exemplo, devemos amar e servir nosso vasto e multicultural Brasil, mostrando que somos um povo que não foge à luta, mas ergue a clava forte da justiça esboçada em princípios éticos e morais elevados que expurgará de nossa mãe gentil o tal do “jeitinho brasileiro” que nos deforma e desmoraliza.

O gigante adormecido precisa ser despertado, pois em meio a tantas mazelas e corrupção, é inadmissível continuar dormindo em berço esplendido.

Ergue-te, ó impávido colosso, e batalha por um futuro de paz, já que tens tantas glórias no passado!

Mostra teu amor próprio através de atitudes claras e irrepreensíveis. Torna-te padrão e magnetiza no teu nobre exemplo, uma postura coerente que emudeça a ignorância dos insensatos e fortaleça os elos dos que constroem a paz.

Desvencilha-te de todo mal, purifica-te de todo erro, quebra todo pacto com a injustiça, reconcilia-te com os teus semelhantes, renova a tua mente e não te esqueças do Senhor teu Deus. Agindo assim, demonstrarás ser verdadeiro o teu amor e então poderás cantar livremente: “Entre outras mil, és tu Brasil, ó pátria amada”!

Rev. Daniel Alves da Costa

1º Tenente Capelão da FAB

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

quinta-feira, 14 de julho de 2011

ARROGÂNCIA, PRINCIPAL TENTAÇÃO DO REFORMADO

O que leva reformados ao caminho da arrogância e soberba? Essa pergunta pode soar estanha e imprópria. Entretanto a altivez e o orgulho espiritual é um pecado no qual muitos reformados caem. A razão para o deslize – por incrível que pareça - é causado pelo conhecimento doutrinário que se recebe. O que fazer com ele? A resposta a essa pergunta é que faz toda a diferença.


Diz o velho jargão que “conhecimento é poder”. É fato que aqueles que têm contado com a fé reformada - e se afadigam no estudo da mesma - estão à frente daqueles cristãos evangélicos que só conhecem superficialmente o Evangelho de Cristo. Os reformados estão entre os leitores de livros doutrinários e históricos, freqüentam simpósios e encontros, além de utilizar ferramentas da mídia eletrônica para se atualizarem nos blogs e sites. Esse conhecimento os separa e os distingue das massas alienadas fabricadas pelo raso evangelicalismo moderno. Como resultado alguns reformados se julgam superiores ao demais gerando, assim, soberba e arrogância.

Estranho esse proceder, pois quanto mais conhecimento obtemos de Deus mais conscientes deveríamos ficar da nossa miséria e falência. Como resultado Isso deveria nos levar ao quebrantamento e a servidão de tal forma que consideraríamos os outros superiores a nós mesmos.

Ao contemplar a glória de Deus no Templo, após uma profunda crise , Isaías em êxtase gritou: “Ai de mim! Estou perdido!”. O peso da glória divina esmagou toda a prepotência e vaidade do profeta - fê-lo conhecer sua insignificância e vileza. Além disso, logo após essa confissão, brotou uma identificação com o próximo de tal maneira que o levou ao serviço: “eis-me aqui”. Essa visão reformou completamente o profeta. O conhecimento de Deus o lançou ao povo a fim de instruí-lo na verdade. Eis um homem consciente da sua miséria e depravação com uma mensagem de perdão e esperança nos lábios. A contemplação da majestade de Deus não levou Isaías ao orgulho espiritual e nem ao isolamento dos demais homens.

Mas, hoje, em muitos casos, não é isso o que acontece. Por quê? É simples: muitos têm uma apreensão intelectual da Verdade, porém essa nunca desceu para o coração. Assim sendo, o conhecimento de Cristo e da sua doutrina quando não nos leva à humildade, inevitavelmente, nos conduz à soberba e, por que não dizer, ao farisaísmo.

Às vezes ouço a antiga oração ecoando por aí: “Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, arminianos, pentecostais e dispensacionalistas, nem ainda como um liberal; leio a Confissão de Fé duas vezes por dia e dou o máximo de tudo quanto ganho para comprar livros reformados, freqüentar congressos e simpósios”. Esses se consideram justos e desprezam os demais. Algo não muito raro no nosso meio.

Concluo enfatizando que precisamos de um calvinismo experimental - uma reforma que nos leva a uma experiência diária de real quebrantamento diante de Deus e humildade perante os demais homens. O “eis-me aqui” de Isaías precisa ser acompanhado pelo “Ai de mim! Estou perdido!”. São essas duas expressões que devem moldar o caráter do reformado, pois somente assim poderemos fazer diferença no nosso meio e na nossa geração. Então, quando o discurso e a prática estiveram presentes na nossa fé reformada seremos realmente relevantes para o mundo. Porém, se tivermos apenas a fé reformada sem a experiência de vida reformada estaremos falando de nós para nós mesmos – presos no gueto da nossa própria vaidade e futilidade. Medite nessas cousas!



Rev. Naziaseno Cordeiro Torres, VDM

quarta-feira, 29 de junho de 2011

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Homossexualidade: Uma Análise Bíblica

Esta é uma era de aceitação e aprovação crescente da homossexualidade. Homossexualidade é retratada por muitos no governo, na educação pública e em nossas faculdades e universidades como apenas uma de muitas escolhas de estilo de vida normais, legítimos. Esses que se opõem ao estilo de vida homossexual em termos morais e religiosos normalmente são retratados pela elite intelectual, a mídia e a indústria de entretenimento como fanáticos, e ignorantes que estão cheio de ódio, “homofóbicos,” e assim por diante.

É verdade que algumas pessoas odeiam os homossexuais. Algumas pessoas até participam de “espancamentos de gays.” Mas deve ser lembrado que as pessoas que se ocupam de tais atividades estão pecando contra Deus; não estão vivendo conforme a lei de Cristo. O verdadeiro cristão ama o homossexual e demonstra isto tratando-o de uma maneira de acordo com a lei, de acordo com a lei de Deus (1 Jo 5:3). Calúnia, violência, ódio e desprezo nunca deveriam ser atitudes de um cristão para com um homossexual; os cristãos deveriam proteger os homossexuais de ataque pessoal. Ainda, enquanto o cristão deveria amar o homossexual o tratando legalmente, ele também teria que amá-lo sendo biblicamente honesto para com ele. A atitude de uma pessoa para com a homossexualidade não deve ser amoldada por nossa cultura mutável e pagã, mas pelo que Deus inspirou, sua revelação infalível, a Bíblia. A Bíblia oferece esperança ao homossexual porque fala a verdade e proclama perdão de pecados através de Jesus Cristo.

A Ordenação de Criação do Matrimônio

Para ter uma apropriada compreensão da sexualidade humana, teremos que nos voltar para o início da criação do homem. No princípio Deus criou um homem (Adão) e uma mulher (Eva). Deus não criou dois homens (por exemplo, Adão e João) ou duas mulheres (e.g., Eva e Maria). Deus criou primeiro Adão do pó da terra; e então criou Eva da costela de Adão. Eva foi criada para ser a esposa de Adão. A Bíblia diz que eles estavam nus, contudo não se envergonhavam. A criação de Deus de um homem e uma mulher para ser o marido e a esposa é o padrão ou paradigma para o que Deus preconizou: relações sexuais normais, morais, santificadas. “A união de matrimônio é ordenada por Deus, e seu preceitos sagrados não devem ser manchados pela intrusão de uma terceira parte, de qualquer sexo” (F. F. Bruce).


Jesus Cristo citou Gênesis 2:24 como prova clara que poligamia (tendo mais de uma esposa) e divórcio (exceto no caso de adultério) são condenados por Deus (Mt. 19:5). O Apóstolo Paulo, enquanto escrevendo debaixo da inspiração do Espírito Santo, disse que há só uma saída moral, legítima para a determinação de Deus para o sexo e o casamento do homem (1 Co. 7:2). Matrimônio monogâmico, heterossexual é o único modo para ter sexo sem pecado e culpa. “Digno de honra entre todos seja o matrimônio, bem como o leito sem mácula; porque Deus julgará os impuros e adúlteros.” (Hb 13:4). Qualquer coisa contrária à ordenação da criação do matrimônio entre um homem e uma mulher é inaceitável diante de Deus. A Bíblia condena toda a atividade sexual fora de um matrimônio monógamo, heterossexual: homossexualidade, sexo pré-marital, poligamia, adultério, bestialidade e assim por diante. “Ninguém vos engane com palavras vãs; porque, por essas coisas, vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência.” (Ef 5:6).

A Lei de Deus

A lei moral de Deus condena a homossexualidade claramente de qualquer tipo: “Não deitarás com um homem como se fosse uma mulher. É uma abominação.... Se um homem deita com um homem como ele deita com uma mulher, ambos cometeram abominação. Eles seguramente serão postos à morte. O sangue deles estará sobre eles” (Lv. 18:22, 20:13). Apologistas para o homossexualismo tentam evitar as claras e não ambíguas declarações da lei de Deus, distorcendo a Bíblia descaradamente (sic) e criando argumentos para desculpa-los.

Alguns admitem que a lei de Deus condena a homossexualidade; eles ensinam que a lei daquele Deus é apenas um registro humano de um costume judeu antigo recheado de preconceito. Estas pessoas negam a autoria Mosaica da lei e relativizam a ética. O argumento deles deve ser rejeitado porque Cristo e os apóstolos aceitaram a autoria divina, a infalibilidade e a autoridade absoluta do Velho Testamento (Mt. 22:39-40; Jo. 10:35; 2 Tm. 3:16-17). Se você rejeita a lei de Deus dizendo que isto são apenas as idéias puramente humanas do antigo Judaísmo, então você não pode reivindicar Cristo como seu Salvador. Ou você acredita que Jesus estava enganado na visão dele acerca da lei de Deus, ou que Ele era um mentiroso. Abra os olhos: Jesus Cristo é Deus (Jo 1:1, 8:58-59); ele não pode ser um mentiroso ou estar equivocado (Nm. 23:19).


"Apologistas do homossexualismo tentam evitar as claras e não ambíguas declarações da lei de Deus, distorcendo a Bíblia descaradamente (sic) e criando argumentos para desculpá-los."
Outros ensinam que só valeriam as leis que condenam homossexualidade para a nação de Israel. As leis do Velho Testamento faleceram com a vinda de Jesus Cristo. Esta visão é popular entre esses que reivindicam ser “os homossexuais evangélicos.” Esta visão é totalmente antibíblica. Quando o Novo Testamento diz que os cristãos estão mortos à lei, significa que Cristo cumpriu a lei (o pacto das obras) para o crente, afastando a maldição da lei pela morte sacrificial dEle. Cristãos são unidos a Jesus Cristo em Sua vida sem pecado e de forma perfeita; são elevados na morte sacrificial dEle e habilitados pelo Seu Espírito a viver uma vida com Deus. Paulo diz que “a lei é santa, e o mandamento santo e justo e bom” (Rm. 7:12). Cristo não se livrou da lei moral. Ele a obedeceu perfeitamente para o crente. Ele morreu para remover a culpa de pecado e enviou o Espírito Santo. Assim os crentes têm o poder para obedecer a lei de Deus. Se Cristo anulasse a lei no sentido que os apologistas do homossexualismo afirmam, então não haveria nenhuma necessidade para que Ele morresse, porque se não há nenhuma lei, não há pecado e culpa. As únicas leis que já não são vigentes são especificamente as leis ligadas à terra de Israel (por exemplo, o jubileu) e as leis cerimoniais. As leis cerimoniais apontaram para Jesus Cristo e o trabalho dEle por tipos e figuras. A lei moral de Deus e a lei civil que são baseadas na lei moral ainda estão em vigor. A lei de Deus está baseada na natureza dEle e Seu caráter; então, é absoluta, imutável e eterna.

É óbvio que as proibições contra a homossexualidade não têm nada que ver com o sistema sacrificial; eles não são claramente cerimoniais em natureza. Além disso, se só fossem validadas as leis contra homossexualidade para a nação de Israel, então por que é condenada a homossexualidade em Sodoma, mais de quatrocentos anos antes da nação de Israel existir: “Assim como Sodoma e Gomorra, e as cidades circunvizinhas, que, havendo-se entregue à fornicação como aqueles, e ido após outra carne [homossexualidade], foram postas por exemplo, sofrendo a pena do fogo eterno.” (Judas 7)? Embora Sodoma seja caracterizada geralmente pela maldade, Gênesis 19 apresenta a homossexualidade como a última fase de um grande deboche. Os homens de Sodoma desejaram relações homossexuais com os convidados de Ló e estavam dispostos a estuprá-los se necessário. Deus forjou destruição total em Sodoma. Sodoma não foi destruída porque os habitantes eram inóspitos, como alguns reivindicam. Apenas ser inóspito não explicaria tamanho julgamento por Deus. Deus destruiu a cidade totalmente; só Ló e a sua família foi poupada.


Alguns apologistas do homossexualismo argumentam que a lei daquele Deus condena apenas a prostituição cúltica masculina. Eles afirmam que a homossexualidade moderna nada tem a ver com a homossexualidade idólatra, pagã praticada antigamente. Deus condena prostituição masculina claramente e os ritos de fertilidade cúlticos associados a isto; Deuteronômio 23:17-18 aplica-se à prostituição cúltica. Mas Levítico 18:22 e 20:13 não mencionam prostituição cúltica. “Se também um homem se deitar com outro homem, como se fosse mulher, ambos praticaram coisa abominável; serão mortos; o seu sangue cairá sobre eles.” (Lv. 20:13).

A tentativa para consolidar todas as proibições contra homossexualidade em apenas uma que lida com prostituição cúltica antiga, revelam um preconceito óbvio pró-homossexual por estes intérpretes. Eles estão forçando o texto bíblico em um molde pró-homossexual. Eles estão sendo desonestos com a intenção clara da Palavra de Deus. Eles estão lendo as próprias pressuposições pró homossexualismo deles na lei de Deus. É ilegítimo condensar três proibições distintas (Lv.18:22,20:13;Dt.23:17-18) em uma. Intérpretes pró-homossexualismo sabem isto, mas não se preocupam, porque eles não estão interessados na verdade; eles só estão interessados em justificar o comportamento mau, pervertido deles. Além disso, a interpretação deles poderia ser usada para justificar relações sexuais com ovelhas e cabras, porque bestialidade também era parte de rito de fertilidade nos cultos antigos. Não se engane. Deus está contra homossexualidade em todas suas formas, tanto a cúltica como também a pessoal.

Os argumentos a favor de homossexualidade são desculpas lamentáveis para um comportamento que Deus odeia e julgará claramente. “Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus.” (1 Co. 6:9-10). Homossexualidade estava condenada por Deus, séculos antes da lei ser dada (por exemplo, Gn. 19). Está explicitamente condenado pela lei de Deus (Lv 18:22, 20:13). Como será mostrado, também é condenado claramente no Novo Testamento pelo Apóstolo Paulo.





O Novo Testamento

O Novo Testamento concorda e confirma a condenação do Velho Testamento do homossexualismo. Nenhuma passagem da Bíblia poderia ser mais clara em sua condenação de homossexualidade que a declaração de Paulo no primeiro capítulo de Romanos: “Por isso, Deus entregou tais homens à imundícia, pelas concupiscências de seu próprio coração, para desonrarem o seu corpo entre si; pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém! Por causa disso, os entregou Deus a paixões infames; porque até as mulheres mudaram o modo natural de suas relações íntimas por outro, contrário à natureza; semelhantemente, os homens também, deixando o contato natural da mulher, se inflamaram mutuamente em sua sensualidade, cometendo torpeza, homens com homens, e recebendo, em si mesmos, a merecida punição do seu erro. E, por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes,... Ora, conhecendo eles a sentença de Deus, de que são passíveis de morte os que tais coisas praticam, não somente as fazem, mas também aprovam os que assim procedem”. (Rm. 1:24-28, 32).
Apologistas pró comportamento homossexual tentam evitar romanos capítulo 1, reivindicando que Paulo estava apenas condenando a luxúria homossexual e a promiscuidade monogâmica das relações homossexuais. O problema com esta interpretação a favor da homossexualidade é que Paulo nem mesmo faz sugestão a tal ideia no texto. Paulo era um perito com problemas éticos complicados. A condenação dele cobre todas as formas de comportamento homossexual. Se homossexualidade for permissível debaixo de certas condições, então seria também a mentira, o assassinato, a difamação, e outros pecados também listados por Paulo permissíveis debaixo de certas condições? Apologistas da homossexualidade também argumentariam que sexo com cabras e ovelhas é permitido se a relação for amorosa e monogamâmica?

Outros apologistas dizem que o Paulo só estava recorrendo a prostituição cúltica grega. Mas o texto não diz nada sobre prostituição cúltica grega. Paulo estava focalizando o que acontece quando as pessoas empurram Deus fora de todos seus pensamentos e adoram ídolos. Paulo estava argumentando sobre o comportamento moral e pessoal. Quando as pessoas abandonam Deus, o comportamento pessoal delas torna-se perverso. Se Paulo só condenasse prostituição cúltica grega, então por que a igreja cedo condenou todas as formas de homossexualidade? Por que é que toda filial da Igreja Cristã e toda denominação Cristã condenou toda forma de homossexualidade durante quase dois mil anos? Só com os anos setenta que a homossexualidade começou a receber aceitação na sociedade. Não é nenhum acidente que as igrejas que mudaram seus conceitos são parte de denominações liberais e que rejeitam a autoridade divina da Bíblia. Se Cristo e os Apóstolos aceitassem homossexualidade monogâmica, então por que foi condenado universalmente na igreja apostólica?

A Teoria da Pederastia

A tentativa mais inteligente para repudiar a condenação de Paulo à homossexualidade é a teoria da pederastia. Esta visão declara que Paulo, seguindo a cultura grega, estava condenando só a exploração sexual e emocional de meninos jovens por homens. Esta visão assume que Paulo era só um produto da cultura grega pagã de seu tempo. Mas a Bíblia ensina claramente que Paulo escreveu debaixo da direção sobrenatural do Espírito Santo (2 Pe 3:15-16). Para entender a cosmovisão de Paulo, não se deveria olhar para Grécia pagã ou Roma, mas para o Velho Testamento, os ensinos de Jesus Cristo e os outros apóstolos. A condenação de Paulo à homossexualidade é completamente consistente com uma continuação da lei de Deus revelada a Moisés. Pederastia está errada e condenada por Deus porque é uma forma ou um subconjunto do homossexualismo. Também é cheia de pecado e má porque é uma forma de sexo fora dos laços do matrimônio legal, monogâmico e heterossexual. Homossexualidade é má, não importa a idade dos participantes. A ideia que uma vez dois machos atinjam a idade de 18 anos, Deus os aprova para fazerem sexo oral e anal é absurda. Paulo condenou tal pensamento mau, tolo há muito tempo: “Sabemos, porém, que a lei é boa, se alguém dela se utiliza de modo legítimo, tendo em vista que não se promulga lei para quem é justo, mas para transgressores e rebeldes, irreverentes e pecadores, ímpios e profanos, parricidas e matricidas, homicidas,impuros, sodomitas, raptores de homens, mentirosos, perjuros e para tudo quanto se opõe à sã doutrina" (1 Tm. 1:8-10).

Ato e Orientação

Qualquer discussão de homossexualidade estaria incompleta sem fazer a diferença entre ato e orientação. Muitos homossexuais dirão, “eu nasci um homossexual — Deus me fez deste modo; então, não deveriam ser condenados meus pensamentos, desejos, e estilo de vida.” Se algumas pessoas nascessem com uma predisposição para comportamento de homossexual, isso faria de alguma maneira o homossexualismo deles e sua cobiça um comportamento aceitável a Deus? Absolutamente não!

"O fato de que todos os seres humanos nascem com uma orientação (ou proclividade) para pecado, não desculpa luxúria ou comportamentos pecaminosos." A doutrina bíblica de pecado original ensina que todos os homens nascem com uma natureza pecadora ou disposição. O primeiro homem, Adão, era a cabeça do pacto e representante da raça humana inteira diante de Deus. Quando Adão pecou, a culpa e contaminação do pecado passaram à raça humana inteira (Rm. 5:12, 17, 19). Toda pessoa (menos Jesus Cristo que foi concebido pelo Espírito Santo) nasce com uma natureza pecadora. Está errado dizer, “Deus me fez um homossexual (ou um mentiroso, ou um assassino),” porque o pecado não se originou em Deus mas no homem (i.e., nosso antepassado, Adão).

O fato que todos os seres humanos nascem com uma orientação (ou proclividade) para pecado, não desculpa luxúria ou comportamentos pecaminosos. A Bíblia diz que todos os homens nascem mentirosos (Sl. 58:3). A Bíblia também diz que mentir é um pecado (Ex. 20:16, Dt.5:20); diz mais adiante que os mentirosos não entrarão no reino de Deus (Dt. 21:27). Se algumas pessoas nascem com uma proclividade para roubo; homossexualidade; assassinato; bestialidade; sadomasoquismo; mutilação etc., isso não a desculpa de um comportamento pecaminoso. O argumento que uma "orientação para homossexualidade" torna isto aceitável de alguma maneira para Deus, poderia ser usado para desculpar o comportamento de todo pecador. Tal argumento destroi responsabilidade pessoal; faz a lei de Deus sem sentido e a salvação por Jesus Cristo desnecessária. Todos os homens serão seguramente responsabilizados diante de Deus por todo pensamento pecaminoso, bem como palavra e ação, não importa a orientação da pessoa. Culpar a Deus pelo comportamento pecaminoso da pessoa pode fazer o homossexual sentir-se bem, mas será ineficaz no dia de julgamento, quando todos os homossexuais impenitentes serão lançados no inferno (1 Co. 6:9-10, Ap. 21:27). Além disso a Bíblia ensina que o homem não pode culpar a Deus pelo seu comportamento pecaminoso, porque Deus não tenta o homem. O homem é tentado por sua própria cobiça: “Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e ele mesmo a ninguém tenta.Ao contrário, cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte.” (Tg. 1:13-15).


Alguns discutem que atos homossexuais são realmente imorais, mas sentimentos homossexuaisdesejos para alguns são inatos e então inevitável e não pecador. A Bíblia ensina que não é pecado ser tentado (Cristo foi tentado, contudo Ele nunca cometeu pecado, Hb. 2:18). O que é pecaminoso é quando uma pessoa se ocupa daquilo que o tenta, fantasia e planeja se ocupar daquele comportamento pecaminoso. A Bíblia ensina claramente que não é pecado somente o cometer atos maus, mas também é pecado ter desejos imorais, luxúrias e pensamentos.

Jesus Cristo proibiu a luxúria heterossexual em Mateus 5:27-29 . Jesus disse que quando um homem olhar uma mulher e a desejar, ele comete adultério com ela no coração (Mt. 5:28). A ideia de condenar só o ato externo, mas não a luxúria interna era uma doutrina dos Fariseus; Cristo condena este falso ensino fortemente (Mt. 5:21-22, 15:19-20). O Apóstolo Paulo proibiu fantasias desprovidas de Deus, luxúrias e desejos (Cl. 3:5). Paulo disse que os cristãos têm que se santificar (i.e., fazer-se santo) seus muitos pensamentos (Fp 4:8). Tiago disse que se os desejos não forem controlados, pecado seguirá (Tg. 4:1). Interiormente, a luxúria homossexual está condenada em Romanos 1:24, 26, 27. O profeta Isaías disse que o arrependimento tem que se estender aos “pensamentos” da pessoa como também para os seus “caminhos” (Is. 55:7). Visto que a Bíblia condena luxúrias e atos pecaminosos não pode haver nenhuma coisa como um homossexual cristão ou um assassino cristão ou um ladrão Cristão. Se um homossexual se tornar um cristão, ele tem que se afastar de atitudes e pensamentos homossexuais; então, quando ele se tornar um cristão, ele deixa de ser um homossexual. Ele ainda pode ser tentado às vezes, mas ele recusa-se a ocupar-se em fantasias e cometer tais ações abomináveis. “Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento.” (Fp. 4:8). “Nós não deveríamos desejar coisas más assim como cobiça-las” (1 Co. 10:6).
Conclusão

A condenação da Bíblia ao homossexualismo está muito clara e muito forte. Deus diz que homossexualidade é uma “abominação”; isso significa que Deus odeia, detesta completamente o comportamento homossexual. O Velho Testamento ensina que as pessoas que estão condenadas do crime de se ocupar de comportamento homossexual deveriam ser postas à morte (Lv 18:22, 20:13). O Novo Testamento está de completo acordo: O Apóstolo Paulo diz que comportamento homossexual é “passíveis de morte” (Rm 1:32). Esta não é a opinião de homem, mas o ensino claro da Palavra de Deus.

As pessoas que reivindicam ser compassivo para homossexuais desculpando e aprovando o comportamento perverso deles são mentirosos e falsos profetas. As tentativas deles para reinterpretar a Bíblia para fazer isto concordando com a homossexualidade são as desculpas mais lamentáveis trazidas para esses que não querem se arrepender. Eles estão dirigindo os homossexuais para o caminho largo que conduz à destruição (Mt. 7:13). Eles são os verdadeiros inimigos da comunidade homossexual.

Sua única esperança é aceitar o que Deus diz para considerar seu comportamento pecaminoso. Se você se arrepender de seus pecados e crer em Jesus Cristo, você deve primeiro ser convencido de que seu comportamento está errado, é maligno e merecedor de julgamento. Depois que Paulo diz que os homossexuais estão excluídos do reino de Deus ele diz, “Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus" (1 Co 6:11). Havia cristãos na igreja em Corinto, que rejeitaram o estilo de vida homossexual anterior e foram libertos de seus pecados. Eles se arrependeram e creram em Jesus Cristo.

Jesus Cristo, como Ele é apresentado na Bíblia, é a única esperança do pecador para Salvação: "E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos." (At. 4:12). Se você crer nEle, todos os seus pecados serão perdoados. “Se com a tua boca confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê para justiça e com a boca se confessa a respeito da salvação. Porquanto a Escritura diz: Todo aquele que nele crê não será confundido." (Rm 10: 9-11)

O sangue sem pecado de Cristo remove a culpa e a maldição do pecado. A vida sem pecado, perfeita é dada como um presente para aqueles que creem nEle. Quando os cristãos estiverem diante de Deus no dia do julgamento eles serão vestidos com a retidão perfeita de Cristo. Crentes vão somente para o céu por causa dos méritos de Jesus Cristo. Quando Cristo ressurgiu da morte ao terceiro dia, foi provado que o sacrifício dEle era aceitável a Deus, o Pai. Cristo levantou-se vitorioso sobre o pecado, culpa, morte e inferno para todos que colocam sua confiança nEle. Depois da ressurreição, Cristo, como o mediador divino-humano, foi feito Rei e Deus sobre tudo no céu e na terra. “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem cancelados os vossos pecados” (At. 3:19).





O Rev. Brian Schwertley é pastor da Igreja Presbiteriana Reformada dos EUA, sendo ministro da Igreja Chalcedon, em Plymouth, MI. EUA. ©Brian Schwertley , Lansing, Michigan, 1996.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

DO SUPREMO TRIBUNAL DIVINO PARA O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL DO BRASIL




Queridos leitores, de tão indignado com a decisão do STF não encontrei palavras para expressar o meu descontentamento. Então, deixarei o próprio Deus se pronunciar. Que o Espírito Santo aplique esse texto nos corações. Amém!



ISAÍAS 59

1 Eis que a mão do Senhor não está encolhida, para que não possa salvar; nem surdo o seu ouvido, para que não possa ouvir;


2 mas as vossas iniqüidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados esconderam o seu rosto de vós, de modo que não vos ouça.

3 Porque as vossas mãos estão contaminadas de sangue, e os vossos dedos de iniqüidade; os vossos lábios falam a mentira, a vossa língua pronuncia perversidade.

4 Ninguém há que invoque a justiça com retidão, nem há quem pleiteie com verdade; confiam na vaidade, e falam mentiras; concebem o mal, e dão à luz a iniqüidade.

5 Chocam ovos de basiliscos, e tecem teias de aranha; o que comer dos ovos deles, morrerá; e do ovo que for pisado sairá uma víbora.

6 As suas teias não prestam para vestidos; nem se poderão cobrir com o que fazem; as suas obras são obras de iniqüidade, e atos de violência há nas suas mãos.

7 Os seus pés correm para o mal, e se apressam para derramarem o sangue inocente; os seus pensamentos são pensamentos de iniqüidade; a desolação e a destruiçao acham-se nas suas estradas.

8 O caminho da paz eles não o conhecem, nem há justiça nos seus passos; fizeram para si veredas tortas; todo aquele que anda por elas não tem conhecimento da paz.


9 Pelo que a justiça está longe de nós, e a retidão não nos alcança; esperamos pela luz, e eis que só há trevas; pelo resplendor, mas andamos em escuridão.

10 Apalpamos as paredes como cegos; sim, como os que não têm olhos andamos apalpando; tropeçamos ao meio-dia como no crepúsculo, e entre os vivos somos como mortos.

11 Todos nós bramamos como ursos, e andamos gemendo como pombas; esperamos a justiça, e ela não aparece; a salvação, e ela está longe de nós.

12 Porque as nossas transgressões se multiplicaram perante ti, e os nossos pecados testificam contra nós; pois as nossas transgressões estão conosco, e conhecemos as nossas iniqüidades.

13 transgredimos, e negamos o Senhor, e nos desviamos de seguir após o nosso Deus; falamos a opressão e a rebelião, concebemos e proferimos do coração palavras de falsidade.

14 Pelo que o direito se tornou atrás, e a justiça se pôs longe; porque a verdade anda tropeçando pelas ruas, e a eqüidade não pode entrar.

15 Sim, a verdade desfalece; e quem se desvia do mal arrisca-se a ser despojado; e o Senhor o viu, e desagradou-lhe o não haver justiça.

16 E viu que ninguém havia, e maravilhou-se de que não houvesse um intercessor; pelo que o seu próprio braço lhe trouxe a salvação, e a sua própria justiça o susteve;

17 vestiu-se de justiça, como de uma couraça, e pôs na cabeça o capacete da salvação; e por vestidura pôs sobre si vestes de vingança, e cobriu-se de zelo, como de um manto.

18 Conforme forem as obras deles, assim será a sua retribuição, furor aos seus adversários, e recompensa aos seus inimigos; às ilhas dará ele a sua recompensa.

19 Então temerão o nome do Senhor desde o poente, e a sua glória desde o nascente do sol; porque ele virá tal uma corrente impetuosa, que o assopro do Senhor impele.

20 E virá um Redentor a Sião e aos que em Jacó se desviarem da transgressão, diz o Senhor.

21 Quanto a mim, este é o meu pacto com eles, diz o Senhor: o meu Espírito, que está sobre ti, e as minhas palavras, que pus na tua boca, não se desviarão da tua boca, nem da boca dos teus filhos, nem da boca dos filhos dos teus filhos, diz o Senhor, desde agora e para todo o sempre.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Páscoa e liberdade


Tanto para o povo hebreu, que viveu durante 430 anos no Egito - quase todo esse tempo em regime de escravidão -, quanto para os cristãos, a Páscoa tem um significado essencial: libertação. Aproveitando-nos do tempo e da época em que, com grande estardalhaço de coelhos e ovos, se comemora a páscoa comercial que traz alguma esperança de livramento da opressão da crise econômica para muitos envolvidos no mundo dos negócios, convido o leitor a refletir sobre o significado básico desse precioso evento.

Quando se fala em libertação, presume-se que existe a liberdade, bem como o cerceamento dela. A sua existência carece de uma definição, até mesmo para que possamos começar a conversar. Assim, nem a liberdade está livre de uma definição que a resuma, conceitue e lhe dê significado além da própria palavra. O conceito libertário, tão propagado nas décadas revolucionárias do final do século passado, em que o homem almejava ser “uma metamorfose ambulante”, livre de leis, de conceitos e de opiniões formadas, tem provado ser uma ilusão e um caminho de degradação para a raça humana, pois a liberdade de um, nesse sentido, é a prisão de outros. A ideia de uma liberdade absoluta morre quando deixamos de defini-la. Logo, a liberdade só pode ser “liberdade para” ou “liberdade de”, mas nunca “liberdade” só.

A conhecida história da libertação dos descendentes de Abraão, Isaque e Jacó, registrada no livro do Êxodo (capítulo 12), mostra-nos estes dois lados da liberdade: “da” escravidão no Egito, onde eram oprimidos como etnia, e “para” adorar ao Deus de seus pais de maneira completa. Ali, o povo hebreu não só era escravo no corpo, mas escravo na mente, quando não tinha a liberdade de expressar a sua fé no Deus que havia se revelado aos seus antepassados e os convocava para a adoração verdadeira. O povo era escravo dos ídolos do Egito em suas mais variadas formas, fossem eles ídolos religiosos, culturais ou econômicos. Nem a liberdade de serem fecundos tinham, pois o soberano da nação mandou assassinar todas as crianças do sexo masculino que nascessem de mães israelitas (Êxodo 1.15).

A sua saída do Egito às pressas, depois que seus exatores foram fustigados pela mão de Deus, mostra-nos com clareza que a “liberdade de” tem como propósito a “liberdade para”. Disso os que foram libertados nunca poderiam esquecer, senão tornar-se-iam escravos mais uma vez. Deus lhes proveu uma maneira de manter isto vivo na memória: o povo poderia desfrutar da liberdade obedecendo ao que lhe era ensinado. Deveriam, todos os anos, reunir-se e celebrar a libertação comendo pães sem fermento durante uma semana, acompanhados de ervas amargas e com a carne de um cordeiro sem defeito, imolado para a ocasião especial. O pão lhes lembraria a rápida fuga, sem o tempo para a preparação do pão com fermento, quando deixaram um país e toda uma vida de escravidão para trás. As ervas seriam a lembrança do amargor de ser escravo e não ter liberdade “de” e “para”.2 O sangue do cordeiro seria passado nas portas, lembrando-lhes que a sua liberdade foi a custo de sangue e intervenção divina. Assim também lembrariam que não deveriam escravizar outras pessoas.



Pouco mais de um milênio depois da primeira Páscoa, um homem chamado Jesus (em hebraico, Josué), nascido na cidade de Belém da Judeia (que foi o berço do grande rei Davi) e criado no vilarejo de Nazaré (lugar desprezado na “Galileia dos gentios”), celebrava a Páscoa em Jerusalém junto com outros doze que o seguiam por toda parte. Sabemos que havia pão e vinho à mesa. Provavelmente serviu-se o cordeiro assado, conforme mandava a lei. Supomos que, por obediência, afinal não houve outro que fosse obediente como Jesus, as ervas amargas estivessem no centro, lembrando-lhes a escravidão passada e a amargura presente. Viviam na Terra Prometida, mas não tomaram posse dela. Tinham suas casas, mas não as possuíam. Criavam seus filhos na religião, mas não eram livres para servir ao Deus verdadeiro. Não eram estrangeiros, mas continuavam escravos. Quase todo o povo sabia dessa amarga realidade, mas poucos ousavam articular as palavras que a revelasse. Seus líderes religiosos mentiam a si mesmos dizendo: “somos descendência de Abraão e jamais fomos escravos de alguém” (João 8.33). Eram escravos do seu próprio orgulho. Tinham os olhos cegos e o coração endurecido (Isaías 6.10), como o de Faraó, que não os deixara sair do Egito.3

O homem que coordenava a celebração naquele pequeno refeitório tinha uma clara missão: ensinar de maneira definitiva o significado da liberdade, exemplificar de maneira encarnada o que é ser livre e efetivar a libertação daqueles que viessem a conhecer a verdade.4 Como fez isso? Encarnando a própria Páscoa, experimentando o profundo amargor de ser condenado sem culpa e morto, tornando-se o próprio cordeiro pascal, o Cristo (que significa o ungido, escolhido por Deus).5 Assim, o Cordeiro Pascal veio trazer “liberdade para” que o ser humano pudesse ser, amar, servir e conhecer a verdade. E “liberdade do” pecado escravizante que cega e não permite ao indivíduo saber, sequer, que é escravo. Não é liberdade absoluta, no sentido pretendido pelo modernismo e pós-modernismo, mas relativa e condicionada à verdade absoluta que a define. Parte fundamental do sentido de liberdade está no respeito ao próximo, que é amar ao próximo como a si mesmo, mas isso é fruto de servir a Deus, amando-o do todo coração, força, alma e entendimento.

Como celebramos a liberdade cristã na Páscoa? Conhecendo a Verdade, amando a Deus e ao próximo, obedecendo àquele que nos ensinou a fazer, em memória dele, a encenação daquela última ceia pascal de que Ele mesmo partilhou. Repetindo-a por que Ele disse que estaria conosco até a consumação dos séculos.

 
 
 
Mauro Fernando Meister (ThM, DLitt), pastor, é professor e Coordenador do MDiv do Centro de Pós-graduação Andrew Jumper, do Instituto Presbiteriano Mackenzie.

sábado, 9 de abril de 2011

Estariam Herodes e Faraó também endemoninhados?

A pergunta é puramente retórica. Aqueles que conhecem um pouco da história bíblica sabem que não. Ela foi feita, porém, como ponto de partida para pensar um pouco sobre uma afirmação que li em um blog, a de que Wellington Menezes de Oliveira, o cruel assassino das crianças na escola de Realengo – RJ, seria alguém insano e possuído por demônios.


A tragédia entristeceu o Brasil e não era para menos. O saldo de tamanha brutalidade são 12 crianças mortas e 11 que permanecem internadas. A sociedade está chocada e muitos começam questionar as causas. Teria o assassino algum distúrbio mental? Estava ele possuído por demônios? O crime foi tão bárbaro que muitos se negam a acreditar que alguém em sã consciência seja capaz de uma monstruosidade como essa.

Como cristão, não posso deixar de pensar em toda essa questão à luz da Palavra de Deus. Faço, então, algumas considerações:

1. A queda afetou profundamente o homem

Ainda que o homem tenha sido criado santo, à imagem de Deus (Gn 1.26-28), com a desobediência de Adão (Gn 3) todos passaram, a partir de então, a ser inclinados para o mal. Tudo aquilo que o homem deseja, pensa e faz, está afetado pelo pecado. Paulo, citando vários textos do Antigo Testamento, pinta um retrato nada agradável do homem pós-queda. Diz o apóstolo: como está escrito: Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer. A garganta deles é sepulcro aberto; com a língua, urdem engano, veneno de víbora está nos seus lábios, a boca, eles a têm cheia de maldição e de amargura; são os seus pés velozes para derramar sangue, nos seus caminhos, há destruição e miséria; desconheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus olhos – Rm 3.10-18 (grifos meus).

A isso chamamos “depravação total”, resultado da queda de Adão. Nesse ponto você, leitor, pode estar dizendo: “mas eu não me enquadro nessa descrição tão horrível”, e eu respondo: não seja tão apressado. Repare que o texto afirma peremptoriamente que “não há um sequer”, portanto, eu e você, inevitavelmente fazemos parte do grupo.

É claro que o conceito de depravação total diz respeito à extensão e não à profundidade, ou seja, a doutrina quer ensinar que o pecado afetou todas as faculdades do homem e não que o homem é tão mal quanto poderia ser. Apesar de todos serem potencialmente capazes das piores atrocidades, não são todos que as cometem e isso por pelo menos 3 razões: a) Mesmo com a queda, o homem é ainda imagem e semelhança de Deus, ainda que essa imagem esteja distorcida; b) A graça comum de Deus, que alcança até os que se opõem a ele, refreia o pecado; c) O Espírito Santo, por meio da Palavra, santifica aqueles que foram regenerados pelo Senhor.

Diante disso, afirmar, ou mesmo cogitar, que o assassino só poderia estar insano ou endemoninhado para cometer tal barbárie é subestimar o poder do pecado e a consequência do afastamento entre o homem e Deus. O homem não precisa da ajuda do diabo para manifestar sua maldade inerente. Ele é capaz por si só, e muitas vezes o faz quando tem oportunidade.



2. As ações são resultado dos desejos do coração

Em um texto anterior demonstrei que o homem é governado pelo seu coração. Esse ensino é abundante nas Escrituras, o que controla o coração controla o homem. Salomão, com a sabedoria que lhe era peculiar escreveu que “como na água o rosto corresponde ao rosto, assim, o coração do homem, ao homem” (Pv 27.19). Jesus enfatizou que “do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias” (Mt 15.19).

Há quem diga que o homem é aquilo que ele come, referindo-se à saúde do corpo. A verdade bíblica, porém, é que o homem é aquilo que ele crê (e isso engloba também a forma como se relaciona com os alimentos). As ações são resultado de convicções, e as convicções resultado daquilo que controla o coração.

Muitos tentam desculpar o homem apontando para as questões sociais ou culturais como causa do “comportamento inadequado”, porém, mesmo sabendo que essas questões podem influenciar, elas não são determinantes, antes, tais circunstâncias servem para revelar o que está latente no coração do indivíduo que acaba por agir em conformidade com ele.

Demonstrarei isso de forma prática com duas histórias que também envolvem o assassinato de crianças, ambas dos personagens citados no título, Herodes e Faraó.

A Bíblia relata que por ocasião do nascimento de Jesus alguns magos chegaram a Belém inquirindo sobre o nascimento do Rei dos judeus. Herodes ficou alarmado com a notícia e mandou que os magos o avisassem. Quando percebeu que os magos o haviam iludido, pois foram divinamente advertidos em sonho, enfureceu-se e mandou matar todas as crianças abaixo de dois anos (cf. Mt 2.1-18).

O que governava o coração de Herodes era o desejo de permanecer sendo rei. Sua convicção era a de que qualquer ameaça à sua condição de rei deveria ser eliminada, e foi isso que tentou fazer, mandando matar as crianças.

A segunda história é bem anterior a essa, aconteceu logo depois que José, filho de Jacó morreu. O livro de Êxodo afirma que logo após sua morte, levantou-se um novo rei no Egito que não conhecia a José. Ele começou a preocupar-se com o crescimento dos hebreus e temendo que o povo, em vindo a guerra, se ajuntasse aos seus inimigos e saíssem da terra, mandou colocar feitores sobre o povo para afligi-lo. Porém, quando mais afligido, mais o povo crescia. O rei arquitetou então outro plano, mandou que as parteiras matassem todos os meninos que nascessem das hebréias, o que não aconteceu somente porque as parteiras foram desobedientes (Ex 1.1-22).

O que governava o coração do rei era o desejo de continuar dominando os hebreus. Sua convicção era a de que nada poderia atrapalhar isso e sua ação foi para que seu intento prevalecesse.

As histórias confirmam ainda mais a tese de que o homem é governado pelo seu coração quando percebemos que os guardas, temendo Herodes, mataram as crianças, enquanto as parteiras, por temer ao Senhor, desobedeceram ao rei.

Em nossos dias não é diferente. Os homens bomba muçulmanos explodem-se em atentados terroristas convictos de que receberão como recompensa vinho e 72 virgens. Certamente o assassino do Rio tinha também suas motivações, ainda que não saibamos quais eram e talvez nunca venhamos saber. Uma coisa é certa, atribuir o assassinato a distúrbios mentais ou a endemoninhamento implica em retirar dele toda a responsabilidade moral pelo ato.

3. Devemos ter cuidado com o nosso coração

Quando nos deparamos com um crime tão bárbaro como esse do Rio os sentimentos se misturam. Tristeza, revolta e ira, são apenas alguns deles, mas, diante do Senhor, devemos examinar nosso coração. Esse exame deve levar em consideração algo que vai além desta tragédia e deve ser abrangente o suficiente para abraçar outros acontecimentos ao redor do mundo, que são igualmente tristes e revoltantes.

Nosso coração é enganoso e pode pregar uma peça nada engraçada nos fazendo impactar com este evento e, contudo, expressar sentimentos que não tem direta relação com a glória de Deus e a compaixão com o próximo. Podem, antes, expressar um coração que, em seu egoísmo, pensa de si mesmo ser alguém que é melhor e procura desesperadamente alguém pior do que ele mesmo! O que estou tentando dizer é que a forma como lidamos com o pecado alheio pode revelar que, no fundo, achamos que somos capazes por nós mesmos de não fazer coisas semelhantes. Uma história que acho formidável e que revela um coração consciente da sua pecaminosidade e do cuidado de Deus envolve o pastor presbiteriano Matthew Henry. Conta-se que, ao voltar da universidade onde lecionava foi assaltado e fez a seguinte oração:

“Quero agradecer, em primeiro lugar, porque eu nunca fui assaltado antes. Em segundo lugar, porque levaram a minha carteira, e deixaram a minha vida. Em terceiro lugar, porque mesmo que tenham levado tudo, não era muito. Finalmente, quero agradecer porque eu fui aquele que foi roubado e não aquele que roubou”.

A percepção de Mattew Henry é perfeita. O que o diferenciava do ladrão era a maravilhosa graça de Deus que o havia regenerado e o conservava firme.

Devemos estar também muito bem conscientes disso. Aquele que é o único com poder para transformar um coração de pedra em um de carne (Ez 36.26) é o mesmo que nos ordena a guardar a Palavra nesse novo coração a fim de não pecar contra ele (Sl 119.1). É ele também que nos exorta a confiar nele, abandonando a autoconfiança, ao invés de presumirmos estar de pé por nossos próprios méritos, arriscando-nos a cair (1Co 10.11-13).


Para terminar...

Minha oração é para que o Deus de toda a consolação guarde e console o coração dos familiares e amigos das vítimas e para que o Senhor nos dê plena convicção de que, pecadores que somos, estamos sujeitos a atitudes também horríveis, a não ser que sejamos plenamente sustentados por sua graça e misericórdia.

Que proclamemos que o Deus que nos redimiu é poderoso para salvar todos aqueles que, arrependidos, se achegam a ele pela fé. Lembre-se que o maior pregador cristão, Paulo, perseguia e matava os crentes, até que foi transformado pelo Senhor. Há redenção em Cristo Jesus!

Que busquemos, pela Escritura, conhecer mais o Redentor e que vivamos plenamente para sua glória e louvor.

Rev. Milton Jr. (Igreja Presbiteriana em Praia do Canto - Vitória/ES)